O novo aumento das infecções por covid-19, o reforço das restrições para desacelerar a propagação do vírus e a demora na vacinação irão atrasar ainda mais a recuperação econômica na Europa, alertam cada vez mais economistas.
Estas circunstâncias podem tornar necessário um reforço do plano de recuperação de 750 bilhões de euros (911 bilhões de dólares) votado no ano passado pela União Europeia (UE).
A UE esteve “à altura da tarefa” em sua resposta após a primeira onda da pandemia, na primavera de 2020 (outono no Brasil). Mas, após a segunda e terceira ondas, “podemos ter que completar esta resposta”, afirmou na quinta-feira em Bruxelas o presidente francês, Emmanuel Macron.
No início de março, a recuperação econômica no verão (inverno no Brasil) ainda parecia possível, considerando que a campanha de vacinação estaria bem encaminhada.
Em sua reunião de 11 de março, o Banco Central Europeu manteve suas previsões e sua presidente, Christine Lagarde, previu um “aumento firme da atividade no segundo semestre”.
Mas, desde então, as perspectivas pioraram. A terceira onda epidêmica fez com que as três principais economias da zona do euro – Alemanha, França e Itália – impusessem novas restrições, quando se pensava que as medidas seriam flexibilizadas.
E os problemas de fornecimento de vacinas – tema central da cúpula da UE na quinta – continuam sem solução.
Em fevereiro, a seguradora de crédito Euler Hermès calculou que a UE estava cinco semanas atrasada em sua meta de vacinar 70% da população até o final do verão. Na quinta-feira, ela revisou seus cálculos: o atraso agora é de sete semanas e pode custar ao bloco em 2021 cerca de 123 bilhões de euros (US$ 145,1 bilhões).
“Se compararmos com a situação nos Estados Unidos, onde as perspectivas são muito mais positivas, estamos muito mais atrasados para nos recuperar dessa terceira onda”, constata Charlotte de Montpellier, economista do ING.
Macron também comparou as políticas de apoio de Bruxelas e Washington.
“A força da resposta americana e o plano anunciado há poucos dias pelo presidente (Joe) Biden e seu Congresso nos colocam diante de uma responsabilidade histórica”, disse o presidente francês, em referência à decisão de injetar 1,9 trilhão de dólares no economia americana.
– “Duas velocidades” –
O banco ING prevê agora um crescimento de 3% para a zona euro em 2021, ou seja, mais de meio ponto abaixo do anunciado no início de março. A “parte mais importante da recuperação” ocorrerá a partir do terceiro trimestre, mais tarde do que o previsto.
Andrew Kenningham, economista-chefe para a Europa da Capital Economics, concorda com essa tendência. Segundo ele, a Europa não terá o mesmo nível de PIB de antes da crise até o segundo semestre de 2022, um ano depois dos Estados Unidos.
Ao ritmo atual, a UE não terá vacinado 50% da sua população “antes de julho”, percentual que o Reino Unido já ultrapassou e que Estados Unidos alcançarão “nas próximas semanas”.
“As perspectivas pioraram”, insiste Chris Williamson, economista-chefe da IHS Markit. O atraso nas vacinações, que por sua vez adia o fim das restrições, pode criar uma “economia de duas velocidades”, alerta.
Os números do PMI de março – que medem a atividade do setor privado na zona do euro – destacaram uma diferença significativa entre a Alemanha, que aproveitou a recuperação industrial, e a França, que é mais dependente dos serviços.
Por sua vez, os países do sul – Espanha, Portugal, Itália e Grécia – já temem uma nova temporada turística a meia velocidade, o que pode constituir uma ameaça para a coesão europeia.
A Standard and Poor’s decidiu, no entanto, manter as projeções para a zona euro em + 4,2% para 2021.
“A economia da zona do euro está menos sensível às restrições sociais do que há um ano”, disse Sylvain Broyer, economista-chefe da S&P para a Europa.