Existe uma aula de reportagem nas livrarias do País. Chama-se Notícias do Planalto – a imprensa e Fernando Collor (Companhia das Letras, 720 págs., R$ 35). O autor é o jornalista Mario Sergio Conti, ex-diretor de redação da revista Veja. É uma reportagem porque Conti entrevistou 141 pessoas e faz um relato enxuto e objetivo do que ouviu. Não há malícia, não há raciocínios entrelinhados, não há ilações. São fatos que se entrelaçam, traçando o perfil de jornalistas e proprietários de órgãos de comunicação contando como esses meios de comunicação surgiram. Também trata da relação do poder político e econômico (mais especificamente da era Collor) com os donos e os profissionais da imprensa. Notícias do Planalto pode assustar pelo tamanho. Bobagem. Um dos méritos de Conti é ter escrito um livro que se lê de qualquer ponto, saltando capítulos, voltando para trás. Como reportagem que é, vai ficar na história do jornalismo como fonte de consulta. E como fonte de consulta, os fatos são apresentados e preservados tão-somente como fatos, sem conclusões.

Um episódio merece destaque: (…) “Estavam prestes a se reconciliar quando, uma noite, Collor chegou mais emburrado que o normal na Casa da Dinda. No jantar, disse a Rosane:

– Para piorar tudo, me disseram que você está tendo um caso com um rapaz de Brasília.

– É, com o Luiz Mário (funcionário do cerimo-nial do governo do Distrito Federal)

– Que história é essa? – quis saber Collor, levantando-se da cadeira.

– Você acredita nessa história? Só me responda isso: você acredita nessa história? – perguntou Rosane, alto, irada.

Collor não respondeu e ela prosseguiu:

– Eu cansei de ouvir que você teve casos com a Renata Scarpa, com a Cláudia Raia e com a Thereza Collor. Nunca te perguntei nada porque sempre achei que eram fofocas (…)”

O resto é melhor saber lendo o livro de Mario Sergio Conti.