Mas foi Luís Ferreira de Barros, vítima de um acidente de carro. Corria o ano de 1968, madrugada de 26 de maio. José, o operário, foi salvo, mesmo após ter sofrido uma parada cardíaca. Luís Ferreira, que dera entrada no PS momentos depois do operário, morreu e se tornou o doador do primeiro transplante de coração realizado na América Latina. Na sala ao lado de onde seu corpo se estendia, a equipe responsável pela cirurgia estava de prontidão. No comando: Euryclides de Jesus Zerbini. Na mesa de operação, esperando pelo coração de Luís: o peão mato-grossense João Ferreira da Cunha, o "João Boiadeiro". Zerbini fez o transplante seis meses depois de o cirurgião sul-africano Christian Barnard ter realizado a primeira cirurgia desse gênero no mundo. "João Boiadeiro" faleceu 28 dias após a operação. O médico realizou ainda mais dois transplantes. Só que os pacientes acabaram morrendo devido a complicações do procedimento (um deles chegou a sobreviver 411 dias). Zerbini, nascido em 1912, em Guaratinguetá (SP), e morto aos 81 anos, em plena atividade, foi acima de tudo um obstinado pela profissão. Realizou cerca de 40 mil cirurgias de coração ao longo da vida e idealizou e dirigiu por sete anos o Instituto do Coração (Incor), inaugurado em São Paulo em 1975. "Eu só queria praticar medicina, a melhor medicina possível", dizia Zerbini.