Quanto você pagaria por um quilo de atum? No tradicional mercado de Tsukiji, em Tóquio, o maior comércio pesqueiro do planeta, o primeiro atum-azul leiloado em 2008 atingiu valor próximo aos R$ 100 mil (cerca de US$ 56 mil), no sábado 5. É a maior cotação registrada nos últimos sete anos. A disputa pelo exemplar de 276 quilos – cada mil gramas saiu por algo em torno de inacreditáveis R$ 360 – causou furor entre os pretensos compradores assim que soaram os sinos autorizando o início dos lances. O vencedor foi o proprietário de uma rede de restaurantes de sushi baseada em Hong Kong e que recentemente abriu sua primeira filial japonesa. Ao final do dia, quase três mil atuns-azuis, totalizando 176 toneladas, foram vendidos em Tsukiji. Em 2001, um atum-azul de 202 quilos foi vendido por US$ 180 mil no primeiro dia de leilões do ano, valor que permanece máximo para o mercado de Tsukiji. O aumento de 30% nos preços em relação a 2007 é resultado de uma combinação de fatores. Iguaria da culinária japonesa há tempos, a carne tenra e saborosa retirada da barriga do atum-azul cativou os paladares ocidentais nas últimas duas décadas, com a explosão de popularidade dos restaurantes de sushi mundo afora. O bom momento da economia asiática faz com que a demanda cresça constantemente na região, em especial entre os chineses. Tamanho desejo só trouxe infortúnios aos nobres peixões. A pesca predatória e desenfreada deixou a espécie em via de extinção nos oceanos Pacífico e Índico e cada vez mais ameaçada no oceano Atlântico e no mar Mediterrâneo – é provável que sua população atual seja aproximadamente 10% do que era há cinqüenta anos. Desde 2002, a Comissão Internacional para a Conservação do Atum Atlântico (ICCAT) vem impondo restrições à indústria pesqueira. O objetivo é reduzir para 25.500 toneladas o total em peso de atuns-azuis capturados anualmente no Mediterrâneo e no Atlântico até 2010. Seguindo a mesma linha, em janeiro de 2007, o governo japonês anunciou um corte de mais de 20% em sua cota do peixe comprada dos países da União Européia. Enquanto a combinação de aumento da demanda e queda da oferta impulsionar os preços do atum-azul, os japoneses terão que abrir a carteira ou substituir seu peixe predileto. O mais consagrado sushiman do Brasil, Jun Sakamoto, diz que há diversas outras variedades no Japão das quais pode se fatiar um sushi. O salmão, tão utilizado em restaurantes japoneses por aqui, não está entre elas. “Eles têm peixes muito mais saborosos, como o linguado e a cavalinha”, diz Sakamoto. Para ele, a procriação e engorda de atuns-azuis confinados (extremamente difícil pelas características transoceânicas da espécie) seria a solução a longo prazo do problema. “Quem conseguir desenvolver essa técnica fica milionário.”