10/05/2013 - 20:45
Apesar de atuações marcantes, o ator nunca ganhou um Oscar. Conheça filmes que poderiam ter rendido o prêmio:
Assista ao trailer de "O Grande Gatsby":
EXIGENTE
DiCaprio diz que “O Grande Gatsby” é o filme mais arriscado de sua carreira:
"Me candidatei a receber críticas"
Antes de embarcar para Cannes, na França, onde seu novo filme, “O Grande Gatsby”, vai abrir oficialmente o festival na quarta-feira 15, o astro americano Leonardo DiCaprio concedeu à ISTOÉ uma entrevista exclusiva no Hotel Plaza, em Nova York. Ele não falou sobre o breve relacionamento que manteve com a top model Gisele Bündchen. Fumava sem parar – mas o cigarro era eletrônico. “Larguei o vício há muito tempo. Esse é só para enganar’’, disse. Na vida profissional, porém, DiCaprio não quer mais enganar, nem a si próprio nem à sua legião de fãs. Ele afirma estar cansado dos personagens românticos que lhe são oferecidos, coisa que se tornou comum desde que se consagrou como o jovem herói de “Titanic”, em 1997, o segundo filme mais visto de todos os tempos. Tinha, na época, 22 anos. Hoje, aos 38, DiCaprio prefere se arriscar em papéis mais adultos, como o dono de terras racista de “Django Livre” ou o policial espião de “Os Infiltrados”: “Preciso de personagens mais relevantes. Do contrário, fico entediado no set.” Diferentemente de seus colegas de geração, DiCaprio vai estrelar apenas dois filmes este ano e está com a agenda completamente vazia. Tornou-se mais exigente. Ao aceitar o convite do diretor australiano Baz Luhrmann para protagonizar “O Grande Gatsby”, ele sabia que estava encarando um ícone da literatura. “É o trabalho mais arriscado da minha carreira. Praticamente me candidatei a receber críticas’’, afirmou.
Seu novo filme é uma adaptação pop do famoso clássico de F. Scott Fitzgerald (1896-1940) sobre um oficial da Marinha que enriquece por meio de negócios escusos e tenta reconquistar a amada com uma vida regada a festas e prazeres mundanos. Nele, DiCaprio retoma a parceria com Luhrmann, com quem rodou “Romeu e Julieta’’, em 1996. “Eu era jovem e tinha a cabeça cheia de sonhos. Não imaginava que um dia estaria na lista dos maiores diretores de Hollywood’’, afirma o ator indicado a três Oscars, mas que ainda não foi reconhecido com nenhum. “Hoje só me coloco nas mãos de cineastas nos quais confio’’, afirma.
"Fui eu quem convidou Tobey Maguire (à dir., no papel de
Nick Carraway) para fazer o filme. Me orgulho de sua atuação”
"F. Scott Fitzgerald previu a Grande Depressão de
1929, ao retratar a falta de percepção das pessoas
diante do que poderia advir nos EUA"
Fotos: Theo Kingma / Rex Features; divulgação
Acredita que “O Grande Gatsby” fará o mesmo sucesso que “Titanic” experimentou há 16 anos?
Os meus critérios continuam os mesmos, especialmente na escolha de personagens. Mas Gatsby não é necessariamente um romântico no sentido tradicional. Ele não quer que a amante simplesmente fuja com ele. Quer que ela deixe o marido, diga que nunca o amou e se mude para o castelo que construiu para ela.
Embora na versão pobre, esses não eram os mesmos desejos de Jack, de “Titanic”?
Não. Gatsby tem uma visão distorcida do amor. E sabe disso, embora não admita. Ele sabe que a mulher por quem se apaixonou fala a linguagem do dinheiro, não a dos sentimentos. Ele é um homem cego diante de uma ilusão que criou. Na sua concepção, a mulher amada é um ideal, não um ser real. Representa uma obsessão.
Como homem, isso não é um comportamento comum?
Penso que sim. Homens têm sempre desejo por mulheres inatingíveis. Isso é comum à maioria deles, não no mesmo grau de insanidade do personagem de Fitzgerald. Desconheço quem tenha levantado um império de US$ 1 bilhão, construído um castelo e promovido festas escandalosas só para poder reconquistar a mulher que deseja.
Foi essa complexidade que o atraiu?
Eu me tornei vulnerável ao aceitar viver um personagem tão lendário. Todo mundo leu esse livro e tem a sua própria interpretação de como ele deve ser. Querem que o personagem corresponda à ideia que têm em mente. Por mais fiel que eu seja à essência do personagem, esse é o meu Gatsby.
Como se submete à visão apresentada pelo diretor do filme?
Na verdade, ele é o nome mais importante na criação de um filme. Atores são importantes na realização, mas já vi grandes atuações passarem despercebidas porque o cineasta não conseguiu atrair a plateia para o mundo que criou. A melhor coisa do cinema é justamente transportar o espectador por duas horas para outro universo.
A literatura não proporcionaria o mesmo?
Sim, mas confesso que não me senti conectado àquele universo quando li o romance pela primeira vez. Tinha 15 anos e não entendia por que o casal era tão apaixonado. A sensação era de uma história de amor convencional, com um desfecho trágico. Agora, ao relê-lo, percebi que tudo não passava de uma ilusão na vida dos personagens. Somente agora percebi também o lado profético do livro em relação à vida real.
Qual?
De certa forma, F. Scott Fitzgerald previu a Grande Depressão de 1929, ao retratar os abusos e a falta de percepção das pessoas em relação ao que poderia advir do rápido crescimento dos EUA.
Seria algo parecido ao mostrado no filme “Cidadão Kane”, nos anos 1940?
Sim. Algumas cenas mostrando o castelo de Gatsby lembram muito as de “Cidadão Kane’’, que foi assumidamente influenciado por “O Grande Gatsby”. Os dois protagonistas buscaram a perfeição e miraram um ideal que não existe. Tiveram existências vazias, apesar do êxito financeiro.
É visível que a ambição do personagem o atrai. O homem Leonardo DiCaprio é ambicioso?
Esse sentimento me aproximou bastante do personagem. Ele é um sonhador que perseguiu o seu objetivo e, para ser bem-sucedido, trabalhou sem descanso. Foi movido por uma grande força de vontade. O mesmo se passou comigo: eu quis ser ator muito cedo, movido por uma obstinação rara para uma pessoa da minha idade.
Por que essa história fascina tanto os americanos?
Por tratar de um período de grande vigor. Foi quando os EUA estavam se tornando uma poderosa nação industrial e todos os sonhos pareciam possíveis. Naquele momento, o novo americano era o homem que veio do nada e, de uma hora para outra, pôde gastar dinheiro na Times Square, vestir camisas caras e bonitas. O eterno sonhador.
O poder leva o personagem ao isolamento. Isso é também uma realidade no mundo do cinema?
Não posso fazer esse paralelo com a minha vida. Gatsby só tem um amigo, Nick (Carraway, o narrador da história), apesar de receber tanta gente em festas, esbanjar dinheiro e estar sempre em busca de diversão. É totalmente desligado do mundo, não tem conexões reais. Ao descobrir a origem de sua fortuna e de sua conduta ilegal, ninguém aparece no seu enterro. Somente Nick – e isso é trágico.
E no seu caso?
Tenho uma relação familiar sólida e conservo muitos amigos.
Como é a sua relação com o ator Tobey Maguire, que interpreta o narrador da história?
Fui eu quem convidou Tobey para fazer o filme. Conheço-o há mais de 20 anos e me orgulho de sua atuação. Eu sabia que ele conseguiria transmitir o que o personagem exigia. Ele faz um favor a Gatsby, por pura amizade, sem pedir nada em troca. Foi uma performance natural. Gosto muito da parte em que ele joga champanhe sobre os outros e se diverte para valer numa festa.
Aos 38 anos, já se considera maduro o suficiente?
Cresci na indústria do cinema e vejo isso como resultado da experiência e da maturidade. Atuo desde os 13 anos e, como cresci nesse ambiente, passei a me sentir confortável com o tempo. Quando olho para trás, vejo uma longa jornada que me levou aonde eu queria.
Como chegou ao cinema?
Morei em Hollywood desde a infância e tudo o que queria era uma chance no cinema. Não me sentia parte daquele universo, apesar de ser fortemente atraído por ele. Forcei minha entrada para conseguir trabalho e não me arrependo. Ser aceito em Hollywood foi como ganhar na loteria.
É uma grande responsabilidade abrir o Festival de Cannes?
Absolutamente. Toda vez que vou a Cannes, me sinto como se fizesse parte daquela sequência de helicóptero do filme “A Doce Vida’’, de Federico Fellini (risos). Sempre acho insano fazer parte do que se passa naquela cidade durante o festival. Cannes é a vitrine perfeita para filmes únicos.
Qual é a sua expectativa?
Seja qual for a recepção, trata-se de uma obra extremamente arriscada. Luhrmann recorreu a um livro respeitado com a intenção de modernizá-lo, fazer uma conexão com o espectador atual. A escolha do rapper Jay-Z para a trilha sonora é um exemplo.