17/09/2009 - 10:00
O espião Francisco Ambrósio do Nascimento está com medo. Na quinta-feira 11, escondido no décimo andar de um edifício onde seu advogado tem escritório, ele tremia as mãos ao receber a reportagem de ISTOÉ. "Não posso mais caminhar com tranqüilidade pelas ruas de Brasília", disse o ex-agente do extinto Serviço Nacional de Informações, que coordenou os trabalhos de agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) na Operação Satiagraha, da Polícia Federal. Ambrósio teme pagar sozinho uma conta que relaciona grampos ilegais envolvendo ministros, parlamentares e autoridades das mais altas cortes da Justiça brasileira. Ele afirma que o depoimento prestado na PF no sábado 6 foi induzido por dirigentes da Abin com o propósito de proteger a instituição e desqualificar a investigação. "Querem me transformar em um bode expiatório", assegura o espião. A seguir, a entrevista concedida por ele.
Meu depoimento só serve para tentar acabar com a Operação Satiagraha, dizendo que eu tive acesso a informações do grupo e ao processo em si, que, como pessoa de fora, não poderia ter.
O delegado Renato Porciúncula (assessor especial da Abin) falou que estava me armando, antecipando para que eu fosse voluntariamente depor, pois isso melhoraria minha situação dentro do inquérito.
Sim. O Porciúncula pegou o telefone dele e marcou para as 10 horas no sábado. Eu queria ir na segunda- feira. Ele falou: "Bicho, vai amanhã às 10 que está tudo acertado."
O delegado Paulo Maurício (diretor afastado da Abin). Ele estava preocupado com a instituição.
Acho que era uma defesa natural de cada órgão. Qual era a intenção? Era saber se eu sabia de alguma coisa. Só que eu não sabia.
Acho que era uma defesa natural de cada órgão. Qual era a intenção? Era saber se eu sabia de alguma coisa. Só que eu não sabia.
Como eu saí como o espião da República que saiu grampeando os Três Poderes, queriam saber de mim se realmente houve aquilo. Então eles disseram: "Bom, se não houve, o próprio presidente do inquérito está querendo livrar tua pele. Então, vamos fazer isso, não sei o que…" Se eu fosse lá sem ter pelo menos, vamos dizer assim, um amigo lá dentro, o DPF (delegado da Polícia Federal), encarregado do negócio, ia cair matando. Acho que houve um acerto.
Para que a única coisa que se extraísse do meu depoimento fosse que o Francisco Ambrósio manuseava documentos da Operação Satiagraha, o que provocará a nulidade do processo.
Fui apenas mais um integrante da equipe do delegado Protógenes em Brasília. Me colocaram como sendo do SNI, mas sou aposentado pela Abin e estou afastado desde 1998.
Com relação a escutas telefônicas clandestinas e ilegais, em hipótese nenhuma. Ocupei, no edifício- sede da Polícia Federal, uma sala no quinto andar, ao lado da sala do diretor.
No quinto andar, normalmente, como eu chegava após o começo do expediente, sempre havia alguém ali na recepção que abria aporta.
Dois ou três dias. Esse crachá, inclusive, era de uma funcionária que trabalhava na nossa sala. Todos os dias, quando eu voltava do almoço, ficava esperando de dez a 15 minutos para entrar na sala. A funcionária, gentilmente, perguntou se eu não queria evitar ficar ali no corredor, que ela me emprestaria um crachá que estava sobrando.
Prefiro não citar nomes. É uma agente da PF.
Ela me emprestou um deles para que eu usasse e entrasse na Divisão de Inteligência.
Ocupava a sala de reuniões do diretor.
Devia ter uns seis. Eu usava um modelo antigo, com aquele monitor normal. Os mais novos ficavam com o pessoal. Esse é o único em que eu mexia durante os seis meses que estive lá.
Eu trabalhei em cima do HD, mas em nenhum momento eu fiz análise. A vista que eu tive da coisa era totalmente superficial e nem sequer dava para chegar a uma conclusão. Então, o que poderia acontecer? Se visse uma planilha, por exemplo, eu separava para a parte financeira; se vinha alguma coisa da parte administrativa, jogava para o perito da equipe.
Sim, eu pensei. Mas, como eu estava dizendo, eu não fazia análise.
Sim, mas eu não chegava a fazer uma análise deles.
Vamos supor o seguinte: tem coisa que é lixo, é spam, então o que é spam automaticamente você já sabe que é spam, você nem olha.
Este e-mail não estava comigo. Isso foi falado na sala. Foi comentado por algum perito. Eu escutei. Posso sim, ter conversado lá…
Acho que era, acho que sim.
Não sei. O que tenho absoluta certeza, da minha presença ali, é que tudo que estava sendo feito era de forma legal.
Pagava em dinheiro e eu assinava recibo.
Fui contratado por um delegado que presidia um inquérito.
Trabalho de rua, nos movimentos sociais.