Caminhando por Nova York, curvado, ofegante, com um casaco de inverno que cobre o terno bem cortado, porém amarfanhado, Eli Wurman (Al Pacino) parece o espectro de Groucho Marx. Judeu formado em Harvard, Wurman foi um poderoso assessor de imprensa, bem relacionado com a elite da megalópole, mas que agora vem se transformando num clown patético, choroso e sem a graça de Groucho. Dito assim, O articulador (People I know, Estados Unidos, 2002), em cartaz em São Paulo e ainda inédito no seu país de origem, poderia passar por um dramalhão. Não é. Baseado em Bobby Zarem, poderoso relações-públicas dos anos 60, o personagem é um dínamo movido pelo alcoolismo e pela dependência das mais variadas drogas, devidamente prescritas pelo médico e confidente Sandy Napier (Robert Klein). Só que o mundo à sua volta mudou e ele não tem o mesmo poder de fogo de antigamente, embora vez ou outra ainda seja procurado por astros hollywoodianos como Cary Launer (Ryan O’Neal) ou estrelas em ascensão da linha de Jilli (Téa Leoni, em papel originalmente destinado à top model Sophie Dahl). Em meio a correrias e reuniões improvisadas via orelhões, já que Wurman se recusa a usar telefones celulares, o único vislumbre de tranquilidade para ele é a companhia da cunhada Victoria Gray (Kim Basinger), viúva de seu irmão. Só que ela também mudou.

Tantas mudanças poderiam provocar alguma reação existencial por parte do personagem, mas o filme dirigido por Dan Algrant descamba para o policial e desemboca num fim abrupto. De nada adiantam as boas atuações de Téa e O’Neal ou de Kim e do próprio Pacino. A fita reflete a emergência com que foi realizada por exigência do atarefado protagonista. Aos 62 anos, Al Pacino estrelou outros dois filmes neste ano: Insônia, atualmente em cartaz, e Simone – com estréia brasileira prometida para breve –, no qual vive o empresário de uma atriz virtual. Coincidentemente, são personagens tão estressados quanto Wurman e, provavelmente, como o próprio Al Pacino.