No céu petista a estrela do ex-prefeito de Porto Alegre Tarso Fernando Herz Genro está cada vez mais reluzente. Este pisciano de 54 anos construiu com afinco a sua ascensão política, tornando-se uma referência nacional do PT, com voz e opinião próprias. Não cedeu aos apelos da cúpula nacional para desistir de disputar a prévia para o governo do Estado com o governador Olívio Dutra, que tinha apoio de Luiz Inácio Lula da Silva. Chegou a acusar Olívio de “stalinista”, por ter se sentido discriminado pela tevê estadual na cobertura do Fórum Social Mundial, em janeiro. Os dirigentes nacionais temiam um racha irreversível na principal vitrine petista do País.

Tarso bateu o pé e levou a indicação do PT para concorrer ao Palácio Piratini com favoritismo, segundo as pesquisas de opinião. Apesar dos temores, o PT acabou pacificado, com Olívio anunciando que será cabo eleitoral de Tarso. Este advogado, especializado em direito trabalhista, mostra que também não tem papas na língua. Não é um xiita do PT, mas condenou o polêmico namoro do comando da campanha presidencial de Lula com o PL. “Compreendo a preocupação de Lula em querer ampliar as alianças. Mas o nosso limite não alcança o PL, com quem não temos a mínima semelhança”, opinou.

Sua visibilidade nacional aumentou a partir de 1998, quando se atreveu a anunciar que gostaria de ser candidato a presidente da República. Ao ver que Lula queria mesmo fazer a sua terceira tentativa, retirou o time de campo. Mas, eleito prefeito em 2000 pela segunda vez (sua primeira gestão foi entre 1993 e 1996), o mais globalizado dos petistas deu projeção internacional a Porto Alegre, promovendo o Orçamento Participativo, hoje copiado em várias cidades do mundo. O PT reina na capital gaúcha há 13 anos e três meses e Tarso participou do comando da cidade por nove anos: como secretário de governo, vice-prefeito e prefeito. Na quinta-feira 4, ele renunciou, passando a prefeitura para o vice, o economista João Verle, 62 anos. A oposição lhe cobrou a promessa, feita em campanha, de que não abandonaria a prefeitura para disputar o governo do Estado.

Tarso é o tipo de petista que transcende o partido. Muitos eleitores que não votam no PT abrem exceção para Tarso. “A viabilidade eleitoral de meu nome me orgulha, mas eu represento um projeto político”, afirma, contestando a idéia de que possa vir a encarnar o papel de político personalista. Com bom trânsito entre as elites, Tarso, quem diria, fundou o Partido Revolucionário Comunista (PRC), acreditando que só a luta armada derrubaria a ditadura. Autor de livros sobre direito, política, filosofia e até mesmo poesia, ele é uma espécie de Fernando Henrique Cardoso do PT pela facilidade e elegância com que transita nos salões acadêmicos mundiais. Já proferiu palestras sobre globalização e reforma do Estado na tradicional École de Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris, por exemplo. Para os mais supersticiosos, um dado precioso: o petista em questão nasceu em São Borja, terra natal de dois ex-presidentes – Getúlio Vargas e João Goulart.