Quem é de Curitiba sabe: o melhor cachorro-quente da cidade (talvez do Brasil, talvez do mundo…) é o servido pela cadeia de lanchonetes Au-Au. O que poucos sabem é que o delicioso lanche, consumido aos borbotões nas dez lojas da cadeia, esconde uma surpreendente história de sucesso nos negócios e uma lição de marketing intuitivo. A rede – provavelmente a única do País que mantém o cachorro-quente como carro-chefe – está completando 30 anos de vida. O criador, o radialista paranaense Luis Gonzaga Brecailo, morreu há quatro anos. Seu primogênito, o advogado de 32 anos Luis César Flores Brecailo, é quem toca o negócio e guarda a história do pai.

“Ele era um visionário”, resume o filho. Dono de três pequenas rádios em Londrina no início da década de 70, Brecailo pai encantou-se com uma novidade, em uma viagem por capitais brasileiras: os carrinhos de cachorro-quente na rua. “Aquilo não existia em Londrina”, lembra o filho. De volta à cidade, o radialista construiu dez carrinhos, batizou seu negócio com o sugestivo nome de Au-Au e se enfiou numa padaria para pesquisar a fabricação de pães. Do “laboratório” saiu a receita secreta do incrivelmente macio pão em que é servido o cachorro-quente até hoje. O negócio deu certo e migrou para Curitiba.

Em pouco tempo, os carrinhos viraram lojas. Hoje, são dez pontos – oito instalados em shoppings da cidade. O principal deles, encravado no bairro mais chique da cidade, o Batel, foi reformado recentemente e preserva um hábito curitibano: comer cachorro-quente no carro, de madrugada. Quando a loja fecha, por volta da 1h, quatro carrinhos permanecem servindo no esquema de drive-in até as 6h da manhã, nos fins de semana. O movimento é intenso.

A rede está crescendo – a próxima loja será inaugurada no campus de uma faculdade – e pretende romper as fronteiras do Paraná. “Já recebemos várias propostas de franquias, mas estamos estudando tudo com muita cautela”, diz Brecailo, que esconde os números do negócio tão bem quanto a fórmula secreta do pão. A existência da Au-Au é um espanto em termos de sobrevivência – lembre-se que grandes marcas de fast-food americanas vieram ao Brasil e quebraram a cara. A mercadoria principal da rede – pão com salsicha – é encontrada em qualquer esquina da cidade pela metade do preço, com os “dogueiros”. Mesmo assim, a Au-Au mantém 95 funcionários formalmente contratados.

“É surpreendente que eles mantenham uma rede desse porte num mercado dominado pela informalidade”, diz o consultor de varejo Eugênio Foganholo, da Mixxer Desenvolvimento Empresarial. Brecailo filho tenta explicar o sucesso da rede, salientando sua obsessão pela qualidade da comida servida e pela austeridade nos gastos. Mas talvez a explicação real esteja numa singela frase do advogado. “Somos apenas vendedores de cachorro-quente. Nada além disso”, diz. É o que os publicitários – que jamais entraram pela porta do QG da Au-Au nos 30 anos da rede – costumam chamar de “foco no negócio”.