Uma nova substância, de nome complicado, mas com resultados aparentemente surpreendentes contra flacidez e rugas, promete balançar o reinado do botox, o produto que virou febre entre quem deseja uma aparência mais jovem de forma rápida. Trata-se do dimetilaminoetanol, mais conhecido como DMAE. O composto foi apresentado durante o último encontro da Academia Americana de Dermatologia, realizado há um mês nos Estados Unidos, e desde então vem merecendo a atenção dos dermatologistas em todo o mundo. De acordo com os estudos feitos até agora, o DMAE teria grande eficácia contra a flacidez ao redor dos olhos e do pescoço e também atuaria na atenuação das rugas, a exemplo do botox, mas com a vantagem de ser usado na forma de creme, e em casa – o botox é injetável e só deve ser aplicado por especialistas.

O novo produto já chegou por aqui. No Rio de Janeiro, ele está sendo receitado pelo dermatologista Walter Guerra Peixe, um dos preferidos das atrizes globais. Peixe conheceu o DMAE no congresso americano, gostou do que viu e por isso começou a indicar cremes manipulados com a nova substância. “Não posso garantir os resultados, mas nesse mês em que venho receitando constatei diferença nos pacientes. O DMAE realmente diminui a flacidez do pescoço e das bolsas debaixo dos olhos”, afirma.

Na verdade, a substância é antiga conhecida da medicina. Encontrado naturalmente na sardinha e no salmão, o DMAE era usado para melhorar a memória. Mas médicos e pacientes observaram que o uso do composto provocava um enrijecimento da musculatura do pescoço. A explicação é a de que a substância agiria nas fibras musculares, provocando o endurecimento do músculo. O resultado seria menos flacidez e a pele mais esticada, diminuindo as rugas. É um mecanismo de ação semelhante ao do botox. O produto paralisa parcialmente o músculo, causando efeito parecido.

Por enquanto, há somente um creme industrializado feito a partir do composto. Ele é fabricado pela Johnson & Johnson, mas não é comercializado no Brasil. O que os dermatologistas estão fazendo é incluir o DMAE na fórmula de loções manipuladas. Mas, apesar do barulho provocado pelo seu lançamento, o ingrediente ainda divide os médicos. O dermatologista mineiro Jacson Machado Pinto, por exemplo, também conheceu o composto, mas prefere ter cautela. “Vou esperar por estudos mais completos. Esse uso para a substância é muito novo e, nessas horas, prefiro ser mais conservador”, ressalva.

A dermatologista paulista Denise Steiner vai mais longe. Ela de fato acredita que o DMAE seja mais uma arma contra o envelhecimento, mas questiona uma ação mais profunda. “É difícil explicar cientificamente que um creme que não contém nenhuma substância forte na sua composição ultrapasse a derme, a epiderme, o tecido gorduroso, chegue ao músculo e faça ainda uma contratura. Para mim, há um certo exagero nessa história”, critica. Com exagero ou sem, é certo que ainda se falará muito dessa mais nova promessa de juventude.

Sem limites

Sucesso nos consultórios dermatológicos, o botox – toxina botulínica – começa a causar preocupação entre os dirigentes da Sociedade Brasileira de Dermatologia. Na quantidade certa, a substância é eficaz e segura. Mas, em doses altas, causa o botulismo (intoxicação que provoca paralisia e pode ser fatal), além de outros problemas. A entidade é contra a maneira como médicos estão utilizando a técnica. “Eles fazem o que chamam de festa do botox”, conta a dermatologista Lúcia Arruda, presidente da entidade, regional São Paulo. A tal festa consiste numa reunião de amigos no consultório do médico ou na casa de algum paciente durante a qual a toxina é aplicada. “É a banalização do procedimento”, critica Lúcia. Segundo ela, usar o botox dessa forma aumenta as chances de surgirem consequências para o paciente. Afinal, mesmo sendo aplicado dentro das condições ideais (em um consultório equipado com os aparelhos necessários) já há um risco – pequeno, é verdade – de acontecerem problemas. “E é óbvio que as chances de esses acidentes ocorrerem num ambiente de festa são bem maiores”, diz Lúcia.