"A inteligência não garante a longevidade. O que garante a longevidade é o uso sábio da inteligência."
Vitorio Furusho

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Tenho visto com frequência pacientes cuidando da saúde de suas empresas como se fosse seu maior patrimônio. Desmarcam consultas, viagens, férias, deixam de almoçar e não têm tempo para família ou para suas atividades físicas. Estressados, dedicam suas vidas a elas e depois, alguns, delas se desfazem para conseguir mais alguns anos mesmo sem qualidade.

Acrescente a esse comportamento fatores que surgem em decorrência desse estilo e que contribuem para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, como hipertensão, tabagismo, sedentarismo, diabete, estresse, obesidade e níveis de colesterol elevados. Aí, estaremos reduzindo rapidamente nossa existência.

Esses fatores ditos de risco são considerados removíveis ou facilmente controláveis. No entanto, alguns de nós ainda têm que conviver com atributos que não conseguimos modificar, como a idade que avança e a nossa herança genética. Assim, a receita ou prescrição para o aparecimento de doenças cardiovasculares está completa.

A doença das artérias coronárias (artérias do coração que quando obstruídas produzem angina, infarto ou morte súbita) é cerca de quatro vezes mais freqüente nos homens do que nas mulheres até os 50 anos, devido possivelmente a uma ação hormonal que as protege até a menopausa. A partir de então, sua incidência tende a se igualar. Dessa forma, se você tem mais de 40 anos e pertence ao sexo masculino (ou feminino com mais de 50) já deve considerar a realização de exames periódicos. Reforça ainda esta indicação se você possui história familiar de cardiopatias (a presença de um ou mais parentes de primeiro grau com doença das artérias coronárias aumenta o risco em 10% a 15%, chegando a 55% para a existência de dois ou mais desses parentes).

O tabagismo está relacionado a 56 doenças catalogadas. Segundo a Organização Mundial de Saúde, é a maior causa isolada evitável de doença e/ou morte prematura. O risco de doença das artérias coronárias é de três a cinco vezes maior no fumante e guarda relação com o número de cigarros consumidos e com a sensibilidade a seus efeitos, variável difícil de ser mensurada. Nos pacientes que já apresentaram algum evento cardiovascular, o cigarro pode aumentar a mortalidade em 50%. Porém, os benefícios de larga-lo são sentidos apenas 20 minutos após sua interrupção, como retorno da pressão arterial e da pulsação ao normal.

O sedentarismo também aumenta o risco de enfermidades cardíacas. O exercício físico regular, ao contrário, reduz a incidência da doença arterial coronária em até oito vezes em relação aos indivíduos inativos.

Evidências epidemiológicas estabelecem uma íntima relação entre a hipertensão e a doença das artérias coronárias. Níveis de pressão elevados explicam 25% das mortes por infarto e 40% dos óbitos por acidente vascular cerebral. Dessa forma, o grau de tolerância sua e a de seu médico com está condição deve ser reavaliado. Desculpe a falta de sutileza, mas você é obeso e tem um índice de massa corpórea (calcula-se dividindo-se o peso pela altura ao quadrado) maior ou igual a 30. Desta maneira, você dá um grande passo em direção contrária à sua saúde. O acúmulo de gordura no abdome parece ser ainda pior. Esse diagnóstico é estabelecido pela medição da relação cintura/quadril, em que os valores devem ser menores que 0,8 para as mulheres e 0,9 para os homens. A ideia aqui é comer menos para comer mais tempo. Mesmo assim, estudos recentes demonstraram que obesos ativos possuem menor risco de saúde do que magros sedentários.

Inequivocamente o colesterol elevado participa de forma ativa da obstrução das artérias do coração, e seus níveis guardam uma relação direta com a sua incidência. Desse modo, o risco de surgimento da doença é duplicado quando o nível de colesterol total varia de 200 para 250 mg/dl e quadruplicado quando atinge 300 mg/dl. Da mesma forma reduções de 1% desse valor representam diminuição de cerca de 3% no risco de se apresentar doença coronária.

Uma grande importância é atribuída ao LDL, o chamado mau colesterol. Seus valores desejados variam de acordo com a quantidade dos fatores de risco presentes.

Como se não fosse suficiente, a presença de diabetes aumenta o risco de doenças coronárias de duas a quatro vezes. Adicione a tudo isso uma pitada de estresse, inerente a nossas atividades diárias e nossa receita para diminuir nossa existência estará completa.

A má notícia, entretanto, ainda está por vir. Esses fatores usualmente têm um peso de influência diferente para cada indivíduo e, embora tenham mais força associados, isoladamente podem ser responsáveis pelo aparecimento da doença.

Assim, o perfil do paciente que sofre infarto do miocárdio em nosso país é de 60% de homens, com media de idade de 56 anos e 76% de sedentários.

Lembre-se desses dados quando for desmarcar sua corrida, sua academia, seu jantar entre amigos ou de família ou ainda sua consulta médica para honrar compromissos com sua empresa. Ela seguramente vai ficar (pouco), já nós…

Morremos todos, antes do que planejamos, muitas vezes por nossa culpa, mas vivemos como se nunca fosse acontecer.

Isso torna o controle do que é possível fundamental, já que navegar não é preciso, mas viver…