Embalada por evidente interesse político, uma grande torcida se move pelo desastre da Copa do Mundo que acontece por aqui em junho próximo. Levados por motivações difusas, manifestantes em número ainda inestimável deverão sim recorrer à arma dos protestos e, a depender da extensão de seus atos, podem tirar parte do brilho da festa. Mas, para além de boicotes condenáveis e ameaças veladas, a Copa em versão brasileira padece de inegáveis problemas de organização e planejamento. E por essa brecha dão espaço para as críticas abertas do alegórico presidente da Fifa, Joseph Blatter. Disse o cartola em entrevista na última semana que desde que começou a trabalhar na instituição em 1975 nunca havia visto atraso como esse. Referia-se fundamentalmente aos 12 estádios, dos quais a metade ainda apresenta obras não concluídas. É, por assim dizer, um fator menor – todos deverão, com certeza, ficar prontos a tempo – diante do possível caos logístico que vem se armando no entorno do evento. Os aeroportos que vão receber esse público, por exemplo, seguem com estruturas insuficientes e qualidade de serviço precária para dar vazão ao fluxo de pessoas que por ali passarão. O teste da virada de ano e dessas férias de verão não deixa margem a dúvidas: guichês de check-in e esteiras de bagagem em número insuficiente, congestionamento de aviões, filas a perder de vista no controle de passaportes e na alfândega, péssima sinalização e despreparo dos atendentes mostram um cenário desolador aos viajantes. No maior “hub” do País, o aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, a situação assume contornos de calamidade. Passageiros exasperados espalham-se por todos os lados reclamando, com razão, que nada funciona. A situação não é nova, mas surpreende que persista restando tão poucos meses para os jogos. É possível superar desafios vitais, que demandam tempo e dinheiro, como o treinamento de pessoal e a conclusão das arrastadas obras de expansão? Blatter tem razão quando diz que o Brasil teve mais prazo que a maioria dos países que já sediaram a competição e desperdiçou. Foram sete anos, dos quais os primeiros quatro gastos em discussões ideológicas tolas sobre a privatização da malha. A projeção de recursos estourou, e muito! Já soma o triplo do inicialmente estimado. O plano de novos aeroportos e aeroportos a reformar ficou bem aquém do prometido. Para completar, as companhias aéreas adotaram uma indecente política de tarifas nos bilhetes da temporada. Os hotéis (esses também em número insuficiente para receber a quantidade de visitantes prevista) fazem o mesmo. A movimentação com o intuito de levar o máximo de vantagem grassa às fuças das autoridades, que nada fazem para conter abusos. Em meio a esse festival de espertezas, desorganização e gastança, fica também uma constatação lamentável: o verdadeiro legado de infraestrutura para as cidades-sedes, alardeado como o maior trunfo da Copa, não passará ao final de uma miragem.