14/10/2011 - 21:00
Faz parte da cultura democrática brasileira um teste a que os presidentes são submetidos pelas centrais sindicais ainda no primeiro ano de mandato. Ainda em plena lua de mel com o poder e com os eleitores, os chefes do Executivo se veem encurralados por greves de categorias ligadas ao serviço público em busca de melhorias salariais e outros benefícios. Em geral, funcionários vinculados à saúde e à educação, além de bancários e petroleiros, costumam promover paralisações nacionais. Exigem ganho real e não querem ter descontados nos salários os dias que passaram sem trabalhar. Adotam a estratégia de esticar a corda o máximo possível. Nos últimos anos, diante dessas pressões, os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva reagiram de forma diferente. FHC, certo de que não poderia abrir mão do rigor econômico imposto nos primeiros anos do Real, não cedeu. Bateu de frente com as centrais sindicais e pagou um preço alto por isso. Precisou colocar tanques de guerra nas ruas para enfrentar os petroleiros e passou os outros sete anos de sua gestão carregando a fama de não ter atendido a classe trabalhadora. Com Lula foi diferente. O petista que tem o sindicalismo em seu DNA encontrou um país economicamente mais arrumado e pôde ceder bastante. Permitiu aumentos de salários bem acima da inflação e assegurou um permanente fluxo de recursos para as centrais sindicais. Terminou os oito anos de governo com a imagem do presidente que melhorou a vida dos trabalhadores. Agora chegou a vez da presidente Dilma Rousseff. Ela segue a cartilha de Lula, está filiada ao Partido dos Trabalhadores e é reconhecida pelos atributos da boa gestão. Sabe que, diante da crise que abate a Europa e os EUA, fazer qualquer concessão à onda grevista de 2011 seria irresponsabilidade. Mas, ao contrário de FHC, Dilma tem condições objetivas de dizer não aos sindicalistas sem arcar com os ônus dessa postura. A presidente está diante de trabalhadores que tiveram ganhos reais nos últimos oito anos e de centrais que têm sido generosamente aquinhoadas com dinheiro público. Dessa forma, ela pode repetir com autoridade a frase que Lula dizia sem muita convicção: “Greve não é férias.” Assim, a presidente agiu corretamente com os funcionários dos Correios, que terão os dias parados descontados de seus salários. Certamente, as outras categorias já estão com as barbas de molho.