Treinado em Nova York, Armínio Fraga está puxando o dólar para baixo. Na sexta-feira 26, ele valia R$ 1,77. Com a munição e o sinal verde do FMI que seu antecessor não teve, ele enfrentou o mês de março com eficiência. E não precisou esbanjar os US$ 8,6 bi fornecidos pelo Fundo para peitar a pressão sobre a moeda, provocada pelo pagamento de títulos cambiais de empresas no valor de US$ 5 bi. A maior parte deles venceu nos dias 12, 15 e 16 de março. Para os próximos meses, a batalha será mais tranquila. Em abril vencem mais US$ 3 bi e em maio somente US$ 2 bi. E ele ainda terá mais dinheiro do Fundo como munição.

Em Nova York, reina Alan Greenspan, presidente do Federal Reserve, conhecido como homem de poucas palavras. Neste aspecto, Fraga é melhor. Confira no diálogo abaixo travado, na quinta-feira 25, entre ele e Wladimir Gramacho, repórter da sucursal de ISTOÉ em Brasília:

ISTOÉ –

O Ministério Público descobriu que alguns clientes do Banco do Brasil levaram prejuízo de R$ 6 bi em janeiro nas operações com o dólar futuro. Quanto disso é de responsabilidade do Banco Central?
Armínio Fraga – Esse não é um assunto que eu possa comentar.

ISTOÉ –

Mas houve intervenção do Banco Central.
Fraga – Não posso comentar.

ISTOÉ –

O sr. defende esse tipo de intervenção?
Fraga – O modelo anterior permitia esse tipo de atuação. Temos ainda um resíduo para esse vencimento (em abril) e a partir disso pretendemos nos ausentar das operações (na BM&F).

ISTOÉ –

Qual o valor dos contratos do BC que vencem em abril?
Fraga – Não quero comentar.

ISTOÉ –

É superior ao limite de 15% dos negócios, definido pela BM&F?
Fraga – Não quero comentar. (Dirigindo-se ao fotógrafo). Tira uma foto só, eu sou uma pessoa só.

ISTOÉ –

O Banco Central desistiu de investigar o vazamento de informação sobre a mudança cambial?
Fraga – Não. No caso específico, não tenho nada a reportar.

ISTOÉ –

O presidente Fernando Henrique Cardoso tem-se mostrado encantado pelo currency board (atrelamento do real ao dólar). O sr. acha que isso faz sentido?
Fraga – Não, acho que não faz sentido. Não é o regime apropriado para o nosso País. (Dirigindo-se novamente ao fotógrafo). Não tira mais fotos não, porque está me dando dor de cabeça.

ISTOÉ –

Ou seja, não faz sentido para o Brasil, hoje?
Fraga – Não faz sentido para o Brasil, ponto.

ISTOÉ –

Nem hoje, nem daqui a três anos…
Fraga – Não.

ISTOÉ –

O sr. já disse isso ao presidente?
Fraga – Essa conversa nós já tivemos. É um assunto recorrente. Acho que ele está no direito dele de não fazer um comentário tão detalhado quanto o meu.

ISTOÉ –

Mas, assim como se viu que o presidente não estava convicto sobre o sistema de bandas, parece, agora, que ele também não acredita no regime flutuante.
Fraga – Não vejo nada demais. Eu trabalho com ele, olho no olho, e não tenho dúvida, não.

ISTOÉ –

O sr. dá sua palavra: o regime cambial não muda?
Fraga – O regime cambial não muda. O que nós temos hoje é o regime correto para o Brasil e não há por que pensar em outro.

ISTOÉ –

O sr. já sabe de quanto foi o déficit nominal em janeiro?
Fraga – Não.

ISTOÉ –

Serão necessários cortes adicionais para atingir a meta do superávit primário de 3,1% do PIB, acertada com o FMI?
Fraga – Tudo indica que não. Mas se for necessário, o governo já se comprometeu.

ISTOÉ –

O sr. não acha que o câmbio caiu e se estabilizou rápido demais?
Fraga – Não comento taxa de câmbio. A taxa é determinada pelo mercado.

ISTOÉ –

E o sr. não comenta o comportamento do mercado?
Fraga – Não. Está aí. Não preciso comentar, é visível.

ISTOÉ –

Mas era a sua expectativa?
Fraga – Minha expectativa não interessa. Não posso falar.