Mais do que o presente de Natal dos Beatles para 2003, o CD duplo Let it be… naked (EMI) recupera um momento crucial na carreira do quarteto. Os Beatles entraram o ano de 1969 acabados, apesar de terem fresquinhos nas lojas os álbuns The Beatles e Yellow Submarine. Foi aí que Paul McCartney surgiu com uma idéia mirabolante. O grupo deveria ser filmado ensaiando um repertório inédito a ser gravado ao vivo em um show espetacular. Depois de passar pelas mãos do técnico Glyn Johns e do produtor George Martin, as gravações emperraram. Cheios, os Beatles abandonaram o projeto e se dedicaram àquele que seria seu canto de cisne, o álbum Abbey Road.

O disco Let it be que ficou conhecido como oficial saiu em meados
de 1970 na esteira do filme de Michael Lindsay-Hogg, enquanto “na vida real” John, Paul, George e Ringo estavam conversando unicamente através de advogados ou pela imprensa. Recheado de cordas e truques bolados por Phil Spector, produtor americano convidado por Lennon, o disco provocou o rompimento definitivo do grupo. Let it be… naked recupera as gravações originais de Johns e Martin, “des-mixadas e re-mixadas”, e vem acompanhado pelo CD Fly on the wall, 23 minutos de conversas captadas nas gravações. Trata-se do mesmo repertório em outra ordem, excetuando-se as vinhetas Dig it e Maggie Mae e incluindo Don’t let me down. Para Ringo Starr, naquelas sessões os Beatles recuperaram a magia que um dia tiveram, a de ser um grupo de amigos, uma bandinha de rock de garagem. Só que a melhor bandinha de rock de garagem de todos os tempos.