O apresentador de televisão Silvio Santos viveu um 2001 cheio de emoções. Logo no início do ano, colheu os frutos do recém-lançado Show do milhão e colocou o bordão “posso perguntar?” na boca do povo. Em março, foi ovacionado na Marquês de Sapucaí, enquanto a rival Rede Globo transmitia ao vivo o desfile das escolas de samba — ele era o homenageado da escola de samba Tradição. Em agosto, veio o drama do sequestro da filha, Patrícia, seguido de seus próprios momentos de cativeiro. Quando se apostava num baque definitivo do apresentador de 71 anos, em outubro começou o fenômeno Casa dos artistas, que rendeu ao SBT os maiores índices de audiência de sua história.

Já o empresário Senor Abranavel (nome de batismo de Silvio) pegou carona no barulho provocado por sua persona televisiva e ganhou dinheiro como nunca. O Grupo Silvio Santos, um conglomerado de 30 empresas e nove mil funcionários, fechou o ano com cerca de R$ 2 bilhões de faturamento (o lucro não foi estimado). O crescimento foi de 8% em relação a 2000, num ano especialmente difícil para a economia em geral.

O grosso da receita veio de seus negócios já bastante consolidados – o próprio SBT, a loteria de capitalização Telesena, o Banco Panamericano e o tradicional Baú da Felicidade. Mas 2001 representou uma guinada no modo de o empresário fazer negócios. Acostumado a vender “papéis”, como os bilhetes da Telesena, os contratos de anúncios no SBT, os financiamentos do Panamericano ou os carnês do Baú, Silvio passou a vender produtos de consumo – de jogos para computadores à casa própria –, numa reedição de seus dias de camelô da barca Rio-Niterói. “A estratégia agora é utilizar o SBT como canal de vendas dos produtos do grupo”, confirma o diretor operacional do Banco Panamericano, Wilson Roberto de Aro.

A primeira experiência veio na esteira do sucesso do Show do milhão. Um CD-ROM do programa foi criado. Com Silvio como garoto-propaganda, o jogo entrou para a história como um dos mais vendidos em todos os tempos no Brasil e já está na quarta versão. Mais de um milhão de cópias oficiais já comercializadas a R$ 29,90 abriram o filão. Agora, Silvio está levando para o computador outra atração sua, o “Qual é a música”. Até um console de videogame obsoleto há anos, o MegaDrive, produzido no Brasil pela TecToy, ganhou uma sobrevida com o lançamento do cartucho do “Show do milhão”, especialmente produzido para a plataforma.

Informática – A grande procura pelo CD-ROM levou Silvio ao mundo da informática. No início de junho, chegava ao mercado o Computador do Milhão. Com design exclusivo e financiada pelo Panamericano, a máquina foi um estouro de vendas. No dia em que Silvio lançou a novidade no programa, 800 mil pessoas ligaram interessadas. A central de atendimento entrou em colapso, mas, no fim das contas, 30 mil máquinas foram vendidas durante o segundo semestre do ano. O feito virou notícia até no New York Times, que fez uma reportagem focalizando a Metron, empresa que produz os computadores. Até então desconhecida e distante do porte das grandes concorrentes internacionais, a brasileira Metron fechou o terceiro trimestre do ano à frente da Compaq, líder há anos no ranking de venda dos computadores pessoais. “As vendas ocorreram num momento difícil, quando vivíamos a crise energética, os problemas na Argentina e a escalada do dólar”, diz Cassio Fernandes Augusto, diretor de marketing e comercialização da Metron. “Silvio Santos acabou virando um ícone da luta contra a exclusão digital”, exagera Augusto.

O poder de venda do ex-camelô carioca manifesta-se até em situações em que ele não participa diretamente do negócio. Sua biografia, escrita pelo ex-assessor e jornalista Arlindo Silva, bateu nas 120 mil cópias vendidas – uma marca alcançada por poucos no País. A Editora do Brasil, até então especializada em livros didáticos, empolgou-se com a obra e pretende lançar uma versão atualizada em março com preço popular – R$ 6,90, contra R$ 23,90 do lançamento original. Serão mais 200 mil cópias. “Normalmente, um livro vende muito quando é lançado e depois as vendas caem abruptamente. A biografia do Silvio, ao contrário, manteve a tiragem constante durante o ano todo”, diz Ricardo Tavares, supervisor de vendas da editora.

Minha casa – A última tacada de Silvio surgiu também de sua experiência no Show do milhão. “Em geral, os participantes do programa dizem que vão comprar uma casa com o prêmio que obtiverem”, conta o diretor do Consórcio Panamericano, Mauricio Bonafonte. A “pesquisa” de Silvio acabou resultando no Plano Minha Casa – Nosso Lar, um consórcio para aquisição de imóveis entre R$ 15 mil e R$ 100 mil, lançado no início do ano. Na primeira semana, o plano engatou a venda de duas mil cotas. “A líder desse mercado, que tem anos de atividade, possui 17 mil cotas”, compara o executivo. Impulsionada pelo sucesso do Grupo Silvio Santos, a Caixa Econômica Federal já anunciou que vai lançar seu próprio consórcio em abril. É o primeiro sinal de que, mais do que nunca, em 2002 Silvio Santos vem aí…