Confirmado nos Jogos Olímpicos de 2024, breaking precisa se estruturar no Brasil

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O Comitê Olímpico Internacional (COI) confirmou na segunda-feira a inclusão do breaking no programa dos Jogos Olímpicos de Paris-2024. A decisão favorável à adesão da nova modalidade já era esperada pelos atletas ao redor do mundo. O breaking está alinhado às propostas do COI de tornar a Olimpíada um evento mais plural, urbano e conectado aos jovens.

“Me sinto muito feliz. Não existe outra palavra que descreva melhor meu sentimento nesse momento. Estamos lutando por essa inclusão há alguns anos”, revelou Leony Pinheiro, um dos principais atletas do Brasil na modalidade. “Já era esperado que isso acontecesse após o sucesso do breaking nos Jogos Olímpicos da Juventude, em 2018”, acrescentou.

Realizado em Buenos Aires, na Argentina, o evento citado por Leony marcou a estreia do breaking em grandes competições esportivas e serviu de teste. Embora seja uma novidade no âmbito olímpico, há mais de 10 anos a modalidade possui eventos internacionais, como o The Notorious IBE, o Outbreak Europe e o Red Bull BC One, e nacionais, como o Master Crews, em São Paulo, Quando as Ruas Chamam, em Brasília, Battle in the Cypher, em Bento Gonçalves (RS), e o FCH2, em Fortaleza.

As competições de breaking normalmente consistem em “batalhas” um contra um, com três rounds cada. Os oponentes apresentam uma combinação de movimentos alternados. Enquanto um competidor dança, o outro aguarda por cerca de 30 a 45 segundos para dar sua “resposta”. A avaliação final é feita por um grupo de juízes.

Para os Jogos de Paris-2024, esses critérios ainda não foram definidos. O júri, contudo, deve seguir o mesmo método de avaliação de outras modalidades olímpicas que possuem um lado mais artístico, como nado sincronizado, ginástica artística e patinação no gelo. Atualmente somam pontos nesses esportes dinâmica, limpeza, musicalidade e originalidade, por exemplo.

“Acredito que esse modelo será mantido para a Olimpíada. Existe uma comissão de B-Boys e B-Girls que estão dialogando com o COI. É um mundo novo para os organizadores dos Jogos, por isso estamos tentando dar um direcionamento para eles. Acho muito difícil que o modelo de batalhas seja alterado. No máximo, devem acrescentar uma regra ou outra para adequar a modalidade aos Jogos”, avaliou Leony.

COMUNIDADE DIVIDIDA – Apesar de grande parte da comunidade do breaking ter abraçado a sua inclusão nos Jogos de Paris-2024, a B-Girl Fabiana Balduína, mais conhecida como “FabGirl”, alertou que parte dos atletas expressou preocupação. Eles temem que a cultura do breaking seja distorcida e que suas raízes, pertencentes à cultura hip-hop, que surgiu em Nova York, na década de 70, sejam cortadas.

“A comunidade ainda está dividida. Acredito que não por questões de conservadorismo, mas, sim, por um certo cuidado, pois muitas pessoas, assim como eu, fizeram de suas vidas essa arte. O desconhecido provoca medo, rejeição e conflitos diversos. Penso que é um momento de dar tempo para que as pessoas assimilem esse momento histórico e daqui a pouco todas já terão internalizado que, independente de Olimpíadas, o breaking não deixará de ser o que sempre foi e sempre será: arte”, afirmou.

PRÓXIMOS PASSOS – O Brasil não possui um time oficial de breaking. Nem uma confederação. Atualmente, o Conselho Nacional de Dança Desportiva e de Salão (CNDDS), única entidade reconhecida pelo COB (Comitê Olímpico do Brasil) e pela WDSF (World DanceSport Federation), que é responsável pelas questões relacionadas à modalidade. Tanto FabGirl quanto Leony concordam que o próximo passo a ser tomado é em direção à criação de federações.

O B-Boy afirma que as condições de treino no país também não são boas. Segundo ele, estruturas adequadas deveriam ser implementadas para o melhor rendimento nas competições. “Em geral, os atletas de breaking, no Brasil, treinam em lugares inapropriados, como praças e rodoviárias. Em São Paulo, por outro lado, existem as ‘fábricas de cultura’, que possui sala de dança espelhada, com bons pisos, ar-condicionado e equipamentos adequados. Mas na maior parte do país não é assim. Espero que isso mude com a inclusão da modalidade aos esportes olímpicos”, opinou.

Em 2003, FabGirl fundou o primeiro grupo de breaking formado exclusivamente por mulheres, o BSBGIRLS. Hoje, ela lidera a escola de dança Drop Education com o objetivo de preparar profissionais para atingirem alta performance e também para aqueles que querem aprender do zero. “Vamos nos preparar! Sempre disse isso quando ficávamos sabendo de competições pelo Brasil a fora e até competições internacionais que gostaria que participássemos”, pontuou.