DEDO Suplicy e Tasso: CPI pôs todos os partidos contra o PT

Na terça-feira 14, às 15h, o Senado Federal tentará, pela quarta vez, instalar a CPI da Petrobras, num desdobramento da crise que tem no epicentro o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP). Nos últimos dois meses, PT, PMDB e PTB boicotaram todas as reuniões para dar início à CPI. Mas, desta vez, tudo indica que será diferente, por um motivo bem prosaico: o governo e o PMDB ficaram sem outra alternativa. A gota d’água foi a reportagem publicada pelo O Estado de S. Paulo, na quinta-feira 9, denunciando a Fundação José Sarney de desviar R$ 500 mil, de um total de R$ 1,3 milhão, repassados pela Petrobras para a preservação do acervo da biblioteca e do museu do ex-presidente. O projeto não teria saído do papel. Em comunicado oficial, a Petrobras afirma que recebeu toda a prestação de contas, incluindo “notas fiscais de despesas realizadas com o projeto e recibos”. Sarney, por sua vez, afirmou que é presidente de honra da fundação e que os esclarecimentos devem ser “prestados pelos administradores constituídos”. A denúncia conseguiu unir à crise do Senado a CPI da Petrobras, tudo o que o PT queria evitar.

Próxima luta PT quer controle da CPI para defender Gabrielli, mas Lula não se importa se PMDB dominar comissão

Foi a segunda derrota do partido em menos de uma semana. Os petistas tentavam impedir a comissão de inquérito a todo custo para não desgastar o governo e o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli. No plenário do Senado, a resistência do partido provocou embate entre o tucano Tasso Jereissati (CE) e o petista Eduardo Suplicy (SP). Mesmo que nenhuma irregularidade apareça, Gabrielli permanecerá por um bom tempo no olho do furacão, o que pode prejudicar o partido na sucessão presidencial. Não bastasse esse revés, depois de ser enquadrado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e recuar sobre o pedido de afastamento de Sarney, o PT ainda se viu constrangido a divulgar nota ambígua sobre o apoio ao presidente do Senado. Durante a reunião da bancada, que insistiu em pedir o afastamento de Sarney mas desde que ele queira sair, o líder do PT, senador Aloizio Mercadante (SP), estava hesitante entre a obrigação de atender a Lula e a preocupação de mostrar para a opinião pública que o PT não está a reboque do presidente. “Foi acendida uma vela para Deus e outra para o diabo”, zomba um senador petista.

Está cada vez mais claro que a tensão entre o lulismo e o petismo vai se tornar permanente e, nessa disputa, Lula tem se saído vencedor. Ele é a única figura autônoma do partido, como reconhecem até mesmo os dirigentes do PT. Nos Estados, a ordem do presidente é a de abrir mão das cabeças de chapa a fim de montar o mais amplo palanque para a ministra Dilma Rousseff em 2010. Na CPI da Petrobras, como o PMDB tem oito dos 11 senadores governistas, o PT novamente deve perder espaço. “O lulismo tira força do PT”, avalia o cientista político Luiz Werneck Vianna, pesquisador do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro). E completa: “O PT não tem vida orgânica”.