24/11/2020 - 8:54
A operadora de linha Sara Policarpo, de 25 anos, foi vítima de racismo ao ir em um estúdio fotográfico para tirar uma foto 3×4 para renovar seu documento de identidade, em Divinópolis (MG), no último dia 20. De acordo com o relato da vítima, o fotógrafo pediu para que ela prendesse o cabelo black power e, mesmo após ela atender ao pedido, o profissional ainda usou um programa de edição de fotos para remover parte do cabelo digitalmente.
Segundo Sara, quando ela chegou, o cabelo dela estava preso no alto da cabeça. Após o pedido do profissional, ela foi ao banheiro e tentou mudar o penteado, mesmo assim, o fotógrafo informou que o posto do UAI, onde o documento é feito, não aceitaria a foto do jeito que o cabelo dela estava.
“Mesmo indignada fui ao banheiro e baixei o cabelo. Comecei a chorar dentro do banheiro. Quando estava descendo a escada, ele falou para que eu desse um jeito, porque o cabelo não ia poder aparecer. Senão, ele teria que cortar o cabelo”, afirmou ao jornal Estado de Minas.
Após tirar a foto, o profissional abriu o programa de edições e “retirou todo o cabelo dela que aparecia na imagem”. Conforme Sara, ela percebeu que havia mais fotos de pessoas negras no banco de imagem do programa que também tiveram os cabelos alterados digitalmente.
“Se a questão era aparecer rosto, orelha, estava tudo visível. Eu estava com cabelo preso. Não tinha necessidade de ele tirar, cortar meu cabelo”, contou ao Estado de Minas.
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Menina também foi constrangida
Ainda de acordo com a mulher, uma criança que foi com a mãe fazer o documento também passou pelo mesmo constrangimento antes dela. Quando chegou ao local, ela ouviu a mãe de uma menina de cerca de 5 anos reclamando de ter que prender o cabelo da criança.
Sara contou também que pensou que teria que fazer o mesmo com cabelo da filha, que tem o cabelo cacheado. No entanto, a menina pode tirar a foto com o cabelo solto sem nenhuma reclamação do fotógrafo. Quando o atendimento acabou, Sara levou as fotos da filha, mas não quis levar as dela.
Em nota, a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), responsável pela emissão do documento, informou que a Delegacia Regional, em Divinópolis, investigará a suposta conduta irregular do fotógrafo. A corporação afirmou ainda que o profissional não possui qualquer vínculo com a PCMG e que ele atua em um comércio.
“A Polícia Civil reforça que não coaduna com qualquer conduta de racismo”, disse, em nota. A Polícia Civil destacou também que o cabelo ou penteado não interferem na confecção do documento e que precisam seguir “padrões técnicos mínimos para a fotografia a ser utilizada no processo de carteiras de identidade civil no estado”.