23/11/2020 - 19:14
Com a escolha de John Kerry como representante especial para o clima, o presidente eleito Joe Biden apostou em um diplomata experiente e conhecido por líderes mundiais para consagrar o retorno dos Estados Unidos ao Acordo de Paris.
Foi o próprio Kerry, na época secretário de Estado de Barack Obama, que em 2015 assinou em nome dos Estados Unidos o tratado do clima. O mesmo aconteceu com o acordo nuclear iraniano, do qual o presidente Donald Trump também optou por retirar os Estados Unidos.
Biden prometeu promover a volta do país ao Acordo de Paris assim que assumir a presidência, em 20 de janeiro.
“Volto ao governo para recolocar os Estados Unidos no caminho certo diante do maior desafio que esta geração e as próximas enfrentarão”, declarou Kerry no Twitter, prometendo “lidar com a crise climática como a urgente ameaça à segurança nacional que é”.
Kerry, de 76 anos, é um dos principais nomes do Partido Democrata. Dois anos mais jovem que Biden, foi secretário de Estado, tentou sem sucesso vencer as eleições presidenciais em 2004 e, em seus 28 anos como senador, caracterizou-se pelo interesse em relações exteriores.
Deixou o cargo de secretário de Estado em janeiro de 2017, quando Trump tomou posse. O clima sempre foi um de seus assuntos prediletos.
Um ano depois, lançou uma aliança batizada de “Guerra Mundial Zero” com outras personalidades contra a mudança climática.
“Nenhum país faz seu trabalho” sobre o clima, criticou Kerry na época. “Temos que tratar esse assunto como uma guerra”.
Cada ano de descaso durante a presidência de Trump complicou essa ‘guerra’. A emissão de gases de efeito estufa nos Estados Unidos está diminuindo devido ao uso crescente de energia renovável e à pandemia. No entanto, isso não está acontecendo na velocidade necessária para atingir a meta proclamada por Biden: atingir a neutralidade absoluta em carbono até 2050.
– Ter palavra –
Quando o Acordo de Paris foi assinado, em dezembro de 2015, a ideia de um mundo neutro em carbono em 35 anos parecia tão radical que nem constava no texto. A neutralidade em carbono significa que os resíduos das emissões de carbono são neutralizados por sistemas de absorção.
Contudo, em cinco anos, muitos países e a União Europeia estabeleceram uma meta a atingir até 2050.
A China anunciou em setembro que a alcançaria em 2060, não sem criticar a inconsistência dos Estados Unidos, o segundo maior emissor mundial de gases poluentes.
Kerry terá que reconquistar a confiança dos parceiros dos Estados Unidos e provar que o acordo de Paris, enfraquecido por Trump, estava o caminho certo a seguir.
Esse acordo não impõe medidas aos signatários. O texto pede que os países definam suas metas para si mesmos, respeitem-as e, por fim, aumentem-nas. Essa fórmula não coercitiva é, ao mesmo tempo, a força e a fraqueza do acordo, pois depende da boa vontade de cada país.
Kerry é experiente em missões diplomáticas perigosas. Além do clima e do Irã, ele negociou com a Rússia um acordo sobre armas químicas na Síria.
O presidente Barack Obama o enviou a Islamabad em 2011 para tentar apaziguar parceiros paquistaneses insatisfeitos porque Washington não os informou sobre o ataque aéreo que resultou com a morte de Osama bin Laden.
Alto, esguio, francófono, Kerry gosta de contatos pessoais, apertos de mão, tapinhas nas costas dos interlocutores, gestos sempre bem recebidos na diplomacia.
O tempo, porém, é curto. A partir de 20 de janeiro, o governo Biden deve mostrar ao mundo seu plano climático com os olhos postos na conferência COP26 que a ONU realizará em Glasgow em novembro de 2021.