A uma semana das eleições municipais as pesquisas apontam que os partidos de centro deverão ser os grandes vencedores do pleito, ao mesmo tempo em que constatam a derrota das legendas dos extremos, sejam da direita ou da esquerda. Os eleitores têm demonstrado uma clara tendência de apoio aos discursos mais moderados, repelindo as candidaturas apoiadas por lideranças populistas. Esse cenário antecipa, assim, uma prévia do que pode acontecer na disputa nacional em 2022. Sem conseguir alavancar seus candidatos, Lula e Bolsonaro deverão sair enfraquecidos do processo. Nas principais capitais, as candidaturas dos partidos de centro, praticamente estão garantidas no segundo turno. É o caso de Bruno Covas (PSDB), em São Paulo; Bruno Reis (DEM), em Salvador; Rafael Greca (DEM), em Curitiba; e Eduardo Paes (DEM), no Rio de Janeiro, entre outros. Todos eles têm em comum a apresentação de propostas, sem o radicalismo de posições ideológicas.

Lula, por exemplo, tem contribuído para o fracasso do seu candidato em São Paulo, Jilmar Tatto, que não tem a mínima possibilidade de ir ao segundo turno. Em Salvador, sua candidata, a Major Denice, deverá sofrer uma grande derrota. O candidato de ACM Neto, Bruno Reis, deverá vencer no primeiro turno. O PT experimentou a queda de 630 prefeituras em 2012, para apenas 256 em 2016. Segundo Debora Gershon, o PT vem caindo em descrédito. “A queda significativa do número de prefeituras conquistadas pelo PT teve duas razões: a desconfiança no partido e em suas lideranças”, disse Debora. Mas o pior ainda pode acontecer nas eleições do próximo domingo. O diretor do Instituto Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo, é categórico: “Para o PT essa eleição deve ser esquecida”, afirmou.

Depois do clima de ódio que vem dominando a política brasileira nos últimos tempos, os eleitores mostram a opção pela moderação

Bolsonaro vive a mesma angústia de Lula. Ele havia dito que ficaria fora do pleito, mas quando resolveu apoiar o prefeito Marcelo Crivella no Rio de Janeiro e o deputado Celso Russomanno em São Paulo, não conseguiu impulsionar os seus candidatos. As duas apostas do presidente pontuaram muito bem no início das pesquisas, mas estão em queda livre. Murilo Hidalgo acredita que a participação de Bolsonaro nas campanhas do Rio e São Paulo mostraram a fragilidade do presidente: “ainda que Crivella e Russomanno estejam no segundo turno, a tendência é que eles não ganhem”, explicou Hidalgo.

Fim da polarização

É verdade que as eleições municipais discutem os temas locais acima de tudo. Mas também é verdade que lideranças nacionais são cabos eleitorais importantes. O professor de ciência política da FGVSP, Marco Antônio Teixeira, diz que essa é a primeira eleição sem um embate ideológico muito claro. “O PT e o PSDB polarizavam a disputa. Mas na última eleição, o debate foi entre o lulismo e o bolsonarismo. Desta vez, as políticas do governo federal deverão estar em xeque”, explicou Teixeira. O cientista político entende que os eleitores vão julgar as políticas públicas do governo e avaliar o presidente. “A Covid-19 terá um grande impacto negativo no julgamento do bolsonarismo”, afirma.

Os padrinhos políticos ainda têm grande influência. Em Salvador, o prefeito ACM Neto (DEM) conseguiu transferir boa parte do seu capital político ao sucessor. O seu vice, Bruno Reis, está na frente em todas as pesquisas e a eleição pode ser liquidado já no próximo domingo. Reis atribui o crescimento da campanha à solução dos problemas cotidianos e aos bons projetos apresentados: “A nossa forma de fazer política é com gestão, entregas e resultados”, afirmou o candidato. Algo parecido ocorre em São Paulo. O prefeito Bruno Covas, que as pesquisas apontam a ida para o segundo turno, diz que a estratégia da campanha é “mostrar aquilo que fizemos na administração. A população está preocupada com os temas da cidade de São Paulo”, disse Covas. Outras candidaturas como a do ex-prefeito Eduardo Paes (Rio de Janeiro) e a do prefeito Rafael Greca (Curitiba), têm em comum o discurso de bons gestores. Depois do clima de ódio que vem dominando a política brasileira nos últimos tempos, os eleitores mostram a opção pela moderação e os candidatos desse núcleo de poder surfam nesse momento que os favorece.