20/08/2020 - 10:29
Jeff Koons é um dos artistas mais bem pagos da atualidade e é, também, um dos mais importantes, influentes, populares e polêmicos da era pós-guerra. É uma das figuras mais proeminentes e controversas do mundo da arte contemporânea e sua trajetória está longe de terminar (tem 65 anos). Ele ficou conhecido graças às esculturas brilhantes, muitas vezes bregas, focadas em temas da atualidade. Desde o ano passado, quando sua obra de aço inoxidável “Rabbit” foi vendida por mais de 90 milhões de dólares pela Christie’s (Nova York), tornou-se o artista vivo mais caro do mundo e reafirmou sua posição de queridinho das celebridades de Hollywood. O mundo da arte parou novamente para estudar seu trabalho e tentar encontrar respostas para identificar como ele conseguiu essa proeza.
Desde jovem, ele nunca escondeu de ninguém o desejo de ser rico e muito famoso. Nasceu na Pensilvânia (EUA) em 1955, estudou na School of the Art Institute of Chicago e no Maryland Institute College of Art, em Baltimore. Desde sua primeira exposição individual em 1980, seu trabalho tem evoluído de montagens em pequena escala de brinquedos para obras monumentais, que incluem enormes animais de aço inoxidável polido e espelhado, parecendo balões infláveis.
Ganhou destaque como parte de uma geração de artistas que explora o significado da arte e do espetáculo em uma era que aparenta estar saturada pela mídia. Com sua intenção artística declarada de “comunicar-se com as massas”, Koons faz uso de construções conceituais – incluindo o antigo, o cotidiano e o sublime-, criando ícones luxuosos e quadros elaborados, que, por trás do exterior cativante, envolvem o espectador em um diálogo metafísico com a história cultural.
Para ele, a arte trata de suas próprias possibilidades, assim como o ser humano. Afirma a sua existência, representando o seu próprio entusiasmo, o seu próprio potencial e o que você pode se tornar. Começou expondo aspiradores de pó e outros eletrodomésticos iluminados por fortes lâmpadas fluorescentes. Depois, incorporou o brilho para destacar seu fascínio pela cultura do consumo, combinando referências históricas da arte com imagens e objetos comuns. Entre as obras dessa fase estão “Inflatables” (1978-79), uma série inspirada no conceito “Readymade” (leia a coluna de Duchamp), “Pre-New” (1979-80), “The New” (1980-87), “Equilibrium” (1983- 93), “Luxury & Degradation” (1986) e “Statuary” (1986).
Seu interesse pela cultura popular expandiu-se na série “Banality” (1988), que incluiu esculturas de pessoas conhecidas. Em “Michael Jackson e Bubbles” (1988) cria uma estátua de porcelana com folha de ouro quase em tamanho real do cantor pop com seu chimpanzé de estimação. Mais ‘kitsch’ (brega) impossível. Em 1989, produziu a série “Made in Heaven”, na qual se autorretrata com a esposa em poses explícitas. Foi o grande destaque da Bienal de Veneza de 1990, mostrando sua arte repleta de cenas eróticas em ambientes luxuosos do barroco e rococó. O casal já se divorciou, mas essa série de obras foi exposta em dezenas de países.
Em meados da década de 1990, criou pinturas hiper-realistas e coloridas, além de esculturas em grande escala representando imagens e formas puras. Misturou o Readymade e com o monumental para transformar objetos simples em símbolos abstratos de transcendência. Nessa última década, suas obras estrearam no Deutsche Guggenheim com uma nova técnica: quadros em camadas com colagens de fotos recortadas de alimentos embalados, paisagens paradisíacas e fragmentos de rostos, membros, cabelos, roupas e acessórios femininos. Seu objetivo com “Easyfun-Ethereal” era mostrar seu interesse por simples prazeres da cultura visual. A ideia acabou sendo expandida para vinte e quatro pinturas, apresentando panoramas fantásticos e imaginativos.
O diálogo de Koons com o ‘Readymade’ e a cultura pop americana continuou em séries como “Popeye” (2002), que incorporam personagens infláveis de grande escala, sozinhos ou combinados com outros objetos e imagens, criando um ambiente lúdico. Seu interesse por metafísica inspirou a série “Antiquity” (2008). Na série “Gazing Ball” (2012), uniu pintura, escultura e arquitetura para multiplicar a experiência sensorial. Sempre fazendo referência direta à arte canônica, retrata cenas familiares semelhantes às que os espectadores têm em suas vidas pessoais.
Ao longo de sua carreira, ele foi pioneiro em novas abordagens para o estilo ‘Readymade’, testou as fronteiras entre arte e cultura de massa, desafiou os limites da fabricação industrial e transformou a relação dos artistas com o culto à celebridade. Conseguiu muitas exposições com seus trabalhos, o que faz com que o valor de mercado aumente a cada dia. Teve muitas obras incluídas em coleções permanentes de importantes museus como o Guggenheim de Bilbao, que apresenta em destaque a escultura “Puppy”, retratando um cachorrinho de 13 metros de altura, criado para transmitir a sensação de “confiança e segurança”
O meio artístico apaixonou-se ainda mais por ele depois que se aproximou de Lady Gaga para produzir a capa de seu disco ArtPop (2013). A imagem mostra ao fundo pedaços da obra “O Nascimento de Vênus”, produzida de Botticelli (leia a coluna) e traz a cantora segurando uma escultura sua em formato de bola. A aproximação dos dois continua até hoje, abrindo inclusive importantes portas com outras celebridades.
Jeff Koons não costuma gerar consenso e sua trajetória não conta apenas com glórias. Artistas e franceses se manifestaram contra sua proposta de fazer um monumento parisiense para as vítimas dos ataques terroristas de 2015. Depois quase quatro anos de muita polêmica, a obra “Bouquet of Tulips” foi instalada perto do Petit-Palais e continuou nas manchetes por ser alvo de processos movidos pelos colecionadores Joel Silver e Steven A. Tananbaum. Em 2017, foi acusado de plágio em um tribunal francês ao copiar a ideia da obra “Naked” de uma fotografia com duas crianças nuas.
O artista americano encarna, de certa forma, a pós-modernidade, retratando a sociedade atual sem rodeios e sem hipocrisia. A crítica mundial divide as opiniões a seu respeito. Há quem ache genial e pioneira a forma como ele se apropria de objetos comuns para criar sua arte, mas há também quem questione sua originalidade, apontando que seu trabalho é brega, muito comercial, com pouco significado e cheio de metamorfoses. Seu processo criativo também é criticado: ele não põe as mãos nos trabalhos (uma equipe cuida disso), ele usa a arte para falar da própria arte, ele discute e questiona elementos do cotidiano das pessoas, ele gosta de se autoelogiar e de se colocar no centro de tudo (em comentários e até em autorretratos) e critica o mercado de arte por seus dogmas.
Geralmente, sempre está com um grande sorriso no rosto. Não se sabe se é pela satisfação com suas obras ou se é pela receita multimilionária que gera. Acho que ele não se importa nem um pouco com a crítica ou com opinião dos outros, pois seu trabalho mesmo sendo classificado como ‘kitsch’ é, sem dúvida, um dos mais bem pagos da história da arte.
Escreva para sugerir um tema ou para contar algo sobre seu artista preferido. Adoro boas histórias! (Instagram Keka Consiglio).