09/08/2020 - 7:55
As dificuldades para os participantes da Superliga Feminina começaram antes mesmo do primeiro jogo da temporada 2020/2021. Com a crise econômica provocada pela pandemia do coronavírus, as equipes do vôlei nacional perderam patrocinadores e receitas relevantes. Isso os fará chegar para a disputa do torneio com graves problemas econômicos, o que coloca em dúvida a competitividade da competição, às vésperas da Olimpíada de Tóquio, no próximo ano.
Os cortes de investimento no esporte brasileiro já vinham ocorrendo após a realização dos Jogos no Rio. E aumentaram com a pandemia, atingindo o vôlei especialmente pelo modelo adotado na consolidação da modalidade desde a década de 1980, quando o seu crescimento se deu calcado no apoio de patrocinadores, como Atlântica, Fiat e Pirelli. A maioria dos times, afinal, tem suas receitas restritas ao que é repassado pelos patrocinadores.
“Esse é o nosso modelo, não temos a negociação do passe como no futebol. E sempre tivemos patrocínio das empresas. Por sorte temos ajuda das leis de incentivo para as categorias de base”, afirmou José Roberto Guimarães e líder do projeto do Barueri/São Paulo, ao Estadão.
Com esse cenário, a definição dos 12 participantes não pôde seguiu os protocolares acessos e rebaixamentos para a próxima temporada. Primeiro, o projeto do Sesc-RJ, capitaneado por Bernardinho e maior vencedor da Superliga, para seguir viabilizado e com uma formação competitiva, se uniu ao Flamengo, deixando a competição com um participante a menos.
Sobrou uma vaga, que poderia ser do penúltimo colocado – e rebaixado – Valinhos, e recusou, sendo herdada pelo São Caetano, lanterna da edição anterior e que decidiu atuar mesmo após perder o seu patrocinador principal. No acesso, o Brasília, time de melhor campanha, garantiu presença, mas Itajaí e Bradesco (SP), 2º e 3º, não quiseram jogar na elite. E aí a equipe de São José dos Pinhais completou a relação de participantes.
Foi assim que se garantiu a participação de 12 times, algo visto por especialistas como importante para o torneio ser rentável e atraente, mesmo que a situação competitiva e financeira de algmas equipes não seja a ideal. “Seria muito ruim ter menos equipes, pelas entregas aos patrocinadores, com transmissões e eventos nas praças em que ocorrem os jogos”, diz Beto Ópice, gerente de marketing do Audax/Osasco.
Renato D´Avila, superintendente de competições de quadra da CBV avalia que as dificuldades enfrentadas pelos times refletem a crise econômica atravessada pelo país. “O Brasil passou por uma crise econômica recente pela qual conseguimos superar relativamente bem. Logo em seguida veio a pandemia, com todos os efeitos que vários setores sofreram. E não passaríamos incólumes. Muitos times tiveram dificuldades de renovação de patrocínios e apoios, de continuidade, e consequentemente, alguns encerraram suas atividades”, comenta.
O período em que eclodiu a crise do coronavírus no Brasil – o mês de março – também foi visto como o pior possível, pois se deu quando estava para começar o mata-mata da Superliga da temporada 2019/2020 e forçou o encerramento do torneio sem a realização dos playoffs e a definição de um campeão. “O momento foi prejudicial para a exposição das marcas, no momento auge disso”, lamenta Ópice.
Mas assegurar a participação na Superliga não termina com os problemas dos times. Os próximos passos das equipes envolvem a busca de investidores para que as obrigações possam ser cumpridas. O Barueri, de Zé Roberto, perdeu 50% do valor orçado para disputar a próxima Superliga, o que faz o treinador e gestor participar de seguidas reuniões em busca de novos apoiadores para um projeto que tem revelado talentos para o vôlei nacional.
“O que não pode é acabar. Investimos atletas jovens. Não importa a posição, acrescentamos experiência para uma garotada, que enfrenta as melhores jogadoras”, diz Zé Roberto. “As empresas que ajudavam também tiveram cortes. E o nosso orçamento já estava no limite”, acrescenta.
Participante de todas as edições da Superliga, o São Caetano chegou a cogitar romper esse histórico, mas conseguiu se inscrever para o torneio, ainda que reconhecendo ter dificuldades para ter um time competitivo. A avaliação é de que o esporte se tornou “caro”. E a equipe precisará aproveitar oportunidades de mercado para definir o seu elenco, pois nesse momento não conta com um patrocinador.
“Você precisa de R$ 2 milhões a R$ 2,5 milhões para brigar por uma vaga nos playoffs”, disse o técnico Fernando Gomes. “Temos um time da base. E sempre tem atletas no mercado, jogadoras que estão sem time, voltando de um país”, acrescentou.