Americano criado em Garunhuns, em Pernambuco, o guitarrista e cantor Arto Lindsay faz um pop urbano que escapa às classificações. Com sua fusão de eletrônica e ritmos baianos, soa brasileiro para nova-iorquinos e demasiado downtown para ouvidos tupiniquins. O que se revela um ótimo paradoxo sonoro em tempos de miscigenação. Em Salt, seu sexto trabalho solo, Lindsay leva sua mistura à perfeição. A vantagem é que o músico domina tão bem o português e o inglês nativo que, ao se alternar nos dois idiomas, parece ter encontrado o segredo das divisões silábicas díspares, caso da faixa de abertura, Habite em mim, com teclados entrecortados por batidas secas.

A sonoridade moderna avança por Kamo, meio bossa-novista, ao estilo de Marcos Valle. Mais balançado, o samba-afoxê Personagem traz guitarra de Davi Moraes e arranjo de metais de Marcelo Camelo, do Los Hermanos. A nova geração se faz ainda presente na sacolejante Jardim da alma, com guitarra de Pedro Só, cavaquinho de Lucas Santtana e vocal indecifrável de Hiroshi Sunairi. O clima carnavalesco chega à apoteose em Combustível, afoxé feito para o bloco baiano Cortejo Afro, o mesmo para o qual criou com o artista plástico Matthew Barney o enredo De lama lâmina, em fevereiro passado. Esta última aparece em arranjo falado, marcado pelas distorções que fizeram a fama do americano nos tempos da no wave. Mas é na calma Into shade, atravessada por cordas e pela guitarra de Vernon Reid, do Living Colour, que Lindsay prova fazer música sem sotaque.