17/05/2020 - 10:43
Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, o empresário Paulo Marinho, de 68 anos, disse que um delegado da Polícia Federal avisou Flávio Bolsonaro, com antecedência, que a corporação iria deflagrar a operação Furna da Onça. Ela atingiu Fabrício Queiroz, que era funcionário do gabinete de Flávio durante seu mandato de deputado federal na Assembleia Legislativa do Rio.
Marinho foi um dos mais importantes e próximos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro durante a campanha para as eleições de 2018. Além de ter cedido a própria casa para o comitê de campanha, o empresário foi candidato a suplente na chapa de Flávio, que concorria – e se elegeu – ao Senado.
Segundo o jornal, em dezembro de 2018, quando o pai já estava eleito, Flávio procurou Marinho. De acordo com o empresário, o atual senador estava “absolutamente transtornado” e pediu a indicação de um advogado criminal.
Com as investigações da PF sobre “rachadinhas” e desvio de dinheiro público batendo à porta de Queiroz, Flávio temia as possíveis consequências para o governo do pai, que estava prestes a assumir.
Marinho teria se encontrado com o senador às 8h de 12 de dezembro. Ao ouvir a solicitação de um criminalista, o empresário ligou para o advogado Antônio Pitombo, que ele havia indicado para defender o atual presidente no processo da deputada Maria do Rosário no STF.
Pitombo indicou o advogado Cristiano Fragoso. No dia seguinte, na casa do empresário, reuniram-se Flávio, Fragoso e o advogado Victor Alves, que, segundo Marinho, trabalha até hoje no gabinete do senador.
Alves disse que havia conversado com Queiroz na véspera e que teve acesso às contas do ex-assessor. Segundo o relato de Marinho, Alves estava impressionado com a “loucura do Queiroz”, que teria feito uma movimentação bancária “absolutamente incompatível” com a sua renda.
Enquanto lamentava a quebra de confiança de Queiroz, chegando a lacrimejar, segundo Marinho, Flávio contou uma história que teria ocorrido uma semana depois do primeiro turno da eleição presidencial de 2018.
O ex-coronel Miguel Braga, atual chefe do gabinete de Flávio no Senado, recebera o telefonema de um delegado da PF do Rio de Janeiro, dizendo que teria um assunto do interesse de Flávio e que gostaria de falar com o senador.
Flávio pediu para que Braga se encontrasse com o delegado, e um encontro foi marcado na porta da Superintendência da Polícia Federal, na praça Mauá, no Rio de Janeiro.
Segundo Marinho, teriam participado do encontro, além de Braga, o advogado Victor Alves e a advogada Valdenice de Oliveira Meliga, da confiança de Flávio e irmã dos policiais militares Alex e Alan Rodrigues de Oliveira, presos na operação Quarto Elemento.
Na calçada, o delegado da PF falou que iria ser deflagrada a operação Furna da Onça, que atingiria a Assembleia do Rio e pessoas ligadas ao então deputado Flávio Bolsonaro. Uma delas seria Queiroz. Outra seria Nathalia, filha de Queiroz que trabalhava no gabinete de Jair Bolsonaro quando ele ainda era deputado federal em Brasília.
Depois, segundo Marinho, o delegado teria sugerido que algumas providências a respeito fossem tomadas. “Eu sou eleitor, adepto, simpatizante da campanha [de Jair Bolsonaro], e nós vamos segurar essa operação para não detoná-la agora, durante o segundo turno, porque isso pode atrapalhar o resultado da eleição”, teria dito o delegado, de acordo com o relato de Marinho.
Após receber a informação sobre a reunião, Flávio avisou ao pai, que pediu as demissões de Queiroz e da filha naquele mesmo dia.
Fabrício Queiroz foi exonerado no dia 15 de outubro de 2018. Ele ocupava o cargo de assessor parlamentar 3 no gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio. No mesmo dia, sua filha, Nathalia Melo de Queiroz, foi exonerada do cargo comissionado de secretária parlamentar no gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro.