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Não há mais dúvidas. A Polícia Federal concluiu que o vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente, é o principal articulador de um esquema criminoso de produção e disseminação de notícias falsas, as fake news, divulgadas contra desafetos e adversários políticos do governo. A investigação policial está em curso no Supremo Tribunal Federal (STF), sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes. E, pelo que já vazou do inquérito, participam da fabricação das mentiras na rede também o seu irmão, deputado Eduardo Bolsonaro, e um grupo de 10 a 12 parlamentares ligados à família. Conhecido como “gabinete do ódio”, o núcleo opera de dentro do próprio Palácio do Planalto, na sala 315, a poucos metros do gabinete do presidente.

Investigações cruzadas

O inquérito aberto no STF se soma às investigações que estão sendo feitas pela CPMI da Fake News no Congresso. As duas apurações apontam na direção da família Bolsonaro como responsável pelos ataques nas redes. As denúncias sobre o envolvimento de seus filhos com os crimes acabaram, inclusive, forçando o presidente a trocar a direção da PF, levando à saída desastrosa do ministro Sergio Moro do governo.

Contudo, o relator do inquérito no STF, ministro Alexandre Moraes, se antecipou às manobras presidenciais e determinou a manutenção dos delegados do caso. O ministro suspendeu, também, a indicação de Alexandre Ramagem para a direção da PF, afastando a possibilidade de intervenção de Bolsonaro no órgão, pelo menos temporariamente. E o STF foi mais longe. O ministro Gilmar Mendes rejeitou o pedido de Eduardo Bolsonaro para arquivar a CPMI das Fake News ou mesmo anular as sessões da comissão nas quais ele foi alvo de denúncias.

Uma das sessões da comissão que o deputado desejava cancelar foi a que a deputada Joice Hasselmann, líder do PSL na Câmara, o acusou de encabeçar contas fakes no Twitter e Facebook, como o Bolsofeios, que ele utilizava para disseminar mentiras. A conta era administrada pelo telefone celular de Eduardo Guimarães, seu chefe de gabinete. A deputada acusou os parlamentares bolsonaristas de usarem funcionários da Câmara, pagos com dinheiro público, para participarem do esquema criminoso. A deputada também acusou o grupo de contar com o financiamento empresarial para a manutenção de uma rede de robôs que propagam as mentiras pela Internet.

“O financiamento disso tudo, desde o início do governo Bolsonaro, todos esses ataques às instituições, vêm do setor privado” Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda (Crédito:Felipe Gabriel)

Fritura na rede

Ex-aliados, parlamentares dos mais variados partidos, governadores e integrantes dos outros poderes, sobretudo do Judiciário, ninguém está livre dos ataques organizados pelo “gabinete do ódio”. Nem mesmo os membros do próprio governo, que entram em processo de fritura nas redes sociais e vão sendo desidratados até a demissão. Isso aconteceu com os ministros Gustavo Bebianno (Secretaria Geral), general Santos Cruz (Secretaria de Governo), Luiz Mandetta (Saúde) e Sergio Moro (Justiça). Como Carlos Bolsonaro comanda as redes assinadas pelo pai, possuindo inclusive as senhas das contas, os ataques normalmente são interpretados como tendo o aval do presidente.

Atento ao cenário político e econômico, o ex-ministro da Fazenda Antonio Delfim Netto é categórico ao definir a origem do patrocínio das fakes news. “O financiamento disso tudo, desde o início do governo Bolsonaro, todos esses ataques às instituições, vem do setor privado”, cravou o economista. Essas apurações,que deverão levar até mesmo a quem financia essa rede criminosa, estão fechando o cerco em torno da família Bolsonaro. Todos devem ser responsabilizados criminalmente, segundo os coordenadores da CPMI.