Em ordem dispersa e, às vezes, de forma polêmica, os europeus iniciam um desconfinamento que promete ser particularmente complexo, ao ritmo de uma epidemia planetária de coronavírus ainda longe de ser interrompida.
Até o momento, a pandemia deixou quase 205.000 mortos para três milhões de infectados em todo mundo, segundo uma compilação feita pela AFP com base em dados oficiais.
A COVID-19 se desacelera, porém, nos quatro países europeus mais afetados, com os últimos balanços diários em queda.
Uma recuperação que é consequência das severas restrições de movimento impostas há mais de um mês, e que vários países se preparam para levantar gradualmente, ou que já reduziram, principalmente pela reabertura de certos estabelecimentos.
A Noruega reabriu as escolas nesta segunda-feira. Uma semana após as creches e jardins de infância, é a vez de as crianças de seis a dez anos encontrarem seus assentos escolares, em classes reduzidas a 15 alunos.
– “Prazer em vê-lo” –
Na escola Levre de Baerum, na periferia de Oslo, flores pintadas no chão na entrada do edifício marcam a distância a ser respeitada.
Pendurados nas portas, cartazes dão boas-vindas às crianças.
“Prazer em vê-lo novamente”, proclamam.
No desenho de uma criança representando um arco-íris, a inscrição “Alt blir bra” em letras maiúsculas: “tudo ficará bem” em norueguês.
Os suíços poderão voltar ao cabeleireiro, com a reabertura de alguns negócios nesta segunda-feira, sujeitos ao respeito das medidas de barreira.
Também na Alemanha e na Áustria, grande parte das lojas reabriu nos últimos dias, com recomendações de “distanciamento social” e máscaras em espaços públicos.
Elogiada até agora pela eficácia de sua resposta muito firme à epidemia, a chanceler alemã, Angela Merkel, vê o consenso da opinião pública rachar, e as críticas aumentam sobre a lentidão de um deconfinamento excessivamente progressivo, segundo alguns.
Na Espanha, depois de seis semanas trancados em casa, os pequenos espanhóis puderam, a partir de domingo, voltar a brincar na rua, com um certo número de restrições.
O confinamento foi prorrogado até 9 de maio, e o governo apresentará seu plano de desconfinamento na terça-feira. A pandemia matou 331 pessoas nas últimas 24 horas.
O primeiro-ministro francês, Edouard Philippe, também divulgará nesta terça sua “estratégia do plano de desconfinamento”, que deve começar em 11 de maio, com uma reabertura gradual, mas controversa, das escolas.
A Itália deve detalhar esta semana as medidas que planeja iniciar a partir de 4 de maio, mas já se sabe que as escolas permanecerão fechadas até setembro.
Ainda não há, porém, desconfinamento na agenda do Reino Unido.
A curva da epidemia “começa a se reverter”, mas os britânicos devem continuar a respeitar as medidas de confinamento, disse o primeiro-ministro Boris Johnson, ele próprio atingido pelo vírus, e que retornava nesta segunda-feira ao comando do governo.
– F1 a portas fechadas –
Johnson disse que entende a “impaciência” da população e prometeu decisões “nos próximos dias”.
“Sei que é difícil. E quero fazer a economia avançar o mais rápido possível, mas me recuso a estragar os esforços e sacrifícios do povo britânico e a arriscar uma segunda grande epidemia”, ressaltou.
Também na Grã-Bretanha, o Grande Prêmio de Fórmula 1 de Silverstone, previsto para 19 de julho, acontecerá a portas fechadas, anunciaram os organizadores nesta segunda-feira.
Na Europa, o número de óbitos continua muito alto: 26.644 mortes na Itália; 23.521, na Espanha; 22.856, na França; e 20.732, no Reino Unido.
Em termos de proporção da população, a mortalidade é mais alta na Bélgica.
Na China, onde a COVID-19 apareceu no final do ano passado, os alunos do ensino médio voltaram às aulas nas metrópoles de Pequim e Xangai nesta segunda-feira.
O uso de máscaras e as medições de temperatura são obrigatórios, depois de quase quatro meses de férias prolongadas, devido à pandemia.
“Estou feliz. Faz muito tempo que não vejo meus colegas de classe”, sorri Hang Huan, 18 anos, em frente à escola Chenjinglun, no leste da capital chinesa.
Todas as escolas chinesas estão fechadas desde o final de janeiro. Desde então, o país conteve a epidemia, com um número oficial de mortos de 4.633.
As autoridades agora temem uma segunda onda de contaminações pelos chamados casos “importados” – em sua maioria chineses que voltam para o país.
– Pausa dos briefings de Trump –
Nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump não deu seu briefing habitual sobre o coronavírus no domingo, após o sarcasmo causado por suas recomendações (“irônicas”, segundo ele) sobre a injeção de desinfetante no corpo de pacientes.
Ele se contentou em lançar suas alfinetadas habituais contra a imprensa: a mídia “desesperada para criar uma impressão de caos”, tuitou.
De longe o país mais afetado pela pandemia, tanto em número de infecções quanto em mortes, os Estados Unidos registraram no domingo à noite 1.330 óbitos adicionais nas últimas 24 horas, totalizando 54.841 vítimas fatais.
Um retorno a uma certa normalidade que não é do agrado de todos: no Peru, o presidente Martin Vizcarra se revoltou no domingo com as filas de consumidores que não respeitavam distâncias seguras para comprar… cerveja.
“Parecia um sábado de festa”, disse ele, comentando em um vídeo nas redes sociais.
E, no Brasil, o líder indígena Raoni, figura emblemática no combate ao desmatamento na Amazônia, lançou um pedido de doações no domingo para ajudar as populações indígenas, particularmente vulneráveis aos vírus importados, como o da COVID-19.
No continente africano, mais de 200 médicos e outros profissionais de saúde cubanos chegaram à África do Sul nesta segunda-feira para participar da luta contra a doença.
Já no Burundi, a campanha para as eleições gerais de 20 de maio começou como se nada estivesse acontecendo, enquanto o partido no poder assegura que o país está protegido do vírus “pela graça divina”.