Disputa entre aéreas e empresas deixa em xeque funcionamento de aeroportos

Em meio a crise do coronavírus e diante da falta de pagamento por parte das companhias aéreas e aeroportos ao setor que presta serviço em solo (as chamadas ground handling), as operações aeroportuárias no País começam a ficar sob risco. A afirmação é do presidente da Associação Brasileira de Empresas Prestadoras de Serviços Auxiliares do Transporte Aéreo (Abesata), Ricardo Aparecido Miguel. Segundo ele, parte dos valores em atraso se refere a serviços prestados antes mesmo do início da crise provocada pela pandemia.

“A maioria das empresas aéreas e alguns aeroportos vêm se recusando a fazer os acertos e isso pode provocar a ausência de pagamento de salário de milhares de colaboradores. O setor tem 40 mil trabalhadores diretos”, explica. A situação pode paralisar o transporte aéreo atualmente em funcionamento, disse Miguel, destacando que cabe aos profissionais em solo realizar serviços como embarque de passageiros, raio X, segurança e varredura contra o terrorismo, manuseio de bagagem e carga aérea, check in, limpeza e desinfecção de aeronaves e outras modalidades de serviços auxiliares.

O presidente da Abesata destacou que é preciso honrar os salários de quem continua na ativa e também da parcela que está temporariamente afastada. No último dia 20, um aditivo à convenção coletiva de trabalho entre trabalhadores e empresas foi firmado por meio das entidades de classe de cada categoria. Com isso, nos casos de contratos mais prejudicados, ou seja, com voos totalmente cancelados, ficou acertado que a empresa poderá afastar o colaborador por 45 dias, com um auxílio alimentação maior do que o habitual.

“Queremos conduzir a crise da forma mais humanizada possível, mas, sem receber pelos voos já atendidos, estamos de mãos atadas”, defendeu.

A Abesata está em tratativas com o BNDES para empréstimos emergenciais específicos para pagamento de pessoal. A associação destacou, entretanto, que a linha de crédito não deve chegar a tempo de atender os trabalhadores no decorrer de abril.

Procurada, a Latam afirmou que está concentrando esforços para estruturar um plano que vise à manutenção do negócio com mínimo impacto em pessoas, internamente e também em toda cadeia de provedores. A aérea disse que está se reunindo individualmente com seus fornecedores para negociação. “A companhia reforça que continuará honrando os saldos dos serviços prestados e oferecerá ainda, pelos próximos três meses, suporte e orientação nas áreas jurídica, sindical e financeira para que encontrem a melhor solução de adequação ao cenário atual”.

Já a Gol afirmou que preza pelo relacionamento e transparência com seus fornecedores e prestadores de serviços. “Em relação a este caso, a GOL informa que está em contato, desde o dia 26/03, com a direção da Abesata e seus associados tratando diretamente o tema”.

A Azul disse que não iria se manifestar.