A diarreia pode ser uma forma secundária de transmissão do novo coronavírus, afirmaram cientistas nesta sexta-feira (7) depois da publicação de um estudo que reportou pacientes infectados com queixas de dores abdominais e desarranjo.
Acredita-se que a forma primária de contágio sejam gotículas com o vírus expelidas pela tosse das pessoas infectadas, embora os pesquisadores dos primeiros casos tenham dito que se concentraram arduamente em pacientes com sintomas respiratórios e podem ter negligenciado os relacionados ao trato digestivo.
Um total de 14 de 138 pacientes (ou seja, 10%) dos pacientes do hospital de Wuhan estudados por pesquisadores chineses autores do estudo publicado no Journal of the American Medical Association (JAMA) apresentaram inicialmente diarreia e náuseas um ou dois dias antes de terem febre e dificuldade respiratória.
O primeiro paciente diagnosticado com o 2019-nCoV nos Estados Unidos também sofreu desarranjo intestinal por dois dias e o vírus foi em seguida detectado em suas fezes. Outros casos similares na China foram registrados na revista científica The Lancet, ainda que com menos frequência.
“É importante destacar que o 2019-nCoV foi reportado em fezes de pacientes com sintomas abdominais atípicos, similares aos da Sars [Síndrome Respiratória Aguda Grave], que também apareceu na urina, o que sugere uma via de contágio fecal altamente transmissível”, declarou William Keevil, professor de saúde ambiental da Universidade de Southampton, em um comentário no Science Media Center, do Reino Unido.
Esta possibilidade não surpreende totalmente os cientistas, uma vez que o novo vírus pertence à mesma família da Sars. A transmissão fecal da Sars infectou centenas de pessoas na urbanização Amoy Gardens, em Hong Kong, em 2003. Uma pluma de ar quente, originária nos banheiros, contaminou vários apartamentos e foi transportada pelo vento para edifícios adjacentes no complexo.
Com base na literatura, “o vírus 2019-nCoV encontrado nas vezes pode ser transmissível pela disseminação fecal”, acrescentou Jiayu Liao, bioengenheiro da Universidade da Califórnia em Riverside.
Mas, ele acrescentou: “Nós ainda não sabemos quanto tempo este vírus pode sobreviver fora do corpo – o HIV [por exemplo] mal consegue sobreviver por 30 minutos fora do corpo – e a qual margem de temperatura o 2019-nCoV é sensível”.
A disseminação fecal pode trazer novos desafios à contenção do vírus, mas é mais provável que seja um problema dentro dos hospitais, que podem se tornar ambientes “amplificadores” de epidemias, disse David Fisman, epidemiologista da Universidade de Toronto.
Benjamin Neuman, especialista em virologia da Texas A&M University-Texarkana, alertou que embora a transmissão fecal não seja algo a se desconsiderar, “as gotículas e o contato com superfícies infectadas e depois tocar olhos, nariz ou boca” provavelmente são as principais formas de transmissão do vírus, segundo os dados disponíveis.