Sobrevivente de Auschwitz teme ressurgimento do antissemitismo

Sobrevivente de Auschwitz teme ressurgimento do antissemitismo

Enquanto a chanceler alemã, Angela Merkel, visita Auschwitz nesta sexta-feira (6), pela primeira vez, o sobrevivente do campo de extermínio Frederick Terna estava em casa, em Nova York, preocupado com o ressurgimento do antissemitismo.

Nos Estados Unidos desde 1952, Terna não está buscando ser “a consciência do mundo”, mas está preocupado com as semelhanças que ele vê entre a política atual e o nacionalismo intolerante de 1930.

“Este antissemitismo é um problema, com o qual o mundo tem que viver. Estou acostumado, é parte do meu funcionamento. Está aí, como pano de fundo, o tempo todo”, desabafou, em uma entrevista à AFP em sua casa no Brooklyn.

Terna era um garoto em Praga, quando a Alemanha nazista anexou partes da Checoslováquia no final de 1938 antes de invadir o país no ano seguinte, quando Adolf Hitler iniciou sua marcha pela Europa.

Todos os membros de sua família morreram nas fábricas de assassinatos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.

O campo de extermínio de Auschwitz-Birkenaun na Polônia ocupada pelos nazistas foi o terceiro dos quatro campos, nos quais Terna foi detido durante a guerra. Ele diz não sentir medo, apesar de tudo que viveu.

Sobrenome escolhido por seu pai para escondê-lo dos nazistas, Terna chegou a este local em 1944, após ser retido no acampamento Terezin, perto de Praga.

“Auschwitz não foi embora. Parte de mim ainda está em Auschwitz”, afirmou.

Ele não ficou muito tempo em Auschwitz, porém. Junto com milhares de outros homens, Terna foi enviado para o campo de concentração em Dachau, na Bavária. Lá, os detentos eram forçados a construir fábricas subterrâneas que não podiam ser detectadas pelos bombardeiros aliados.

As forças americanas libertaram o campo em abril de 1945. Extremamente fraco, Terna voltou para Praga, onde encontrou um oficial comunista vivendo em seu antigo apartamento.

Depois de passar um tempo na França, Terna seguiu com sua primeira mulher, já falecida, para uma nova vida nos Estados Unidos.

“Tinha a ideia de ir o mais longe possível da Europa”, afirmou.

Com o aumento dos ataques contra judeus na Europa e nos Estados Unidos, Terna disse que cabe aos poucos sobreviventes restantes do Holocausto controlar o antissemitismo.

“Sou um dos que restam que aponta o dedo para aqueles que são antissemitas, aqueles que tentam nos culpar pelos males do mundo, culpar os judeus, hoje”, declarou.

Terna acredita que aqueles que, como ele, foram testemunhas das atrocidades, fizeram seu trabalho.

“Hoje, você pode ir a qualquer parte do mundo, daqui até a Tasmânia e à Nova Zelândia. Não há uma faculdade que não tenha um curso sobre a Shoah (termo hebraico para o Holocausto)”, afirmou, ressaltando, contudo, que ainda há muito trabalho por fazer.

Terna se preocupa com o auge do nacionalismo e com a divisão, particularmente na Europa Central, mas também nos Estados Unidos. Hungria é o primeiro país que vem à sua mente, assim como a América de Donald Trump.

“Minha reação ao que está acontecendo agora é muito influenciada pelo que vivi na década de 1930. Medo é a palavra errada. Estou muito, muito preocupado”, acrescentou Terna.