20/11/2019 - 9:00
Impressionado com o denso conteúdo oferecido em aulas pela internet por artistas como a cineasta Anna Muylaert, o produtor Rodrigo Teixeira e o escritor Marcelino Freire, o ator Lázaro Ramos foi cumprimentar os criadores desses trabalhos quando recebeu de volta o convite para também organizar um curso. Motivado, ele aceitou o desafio e, na quinta-feira, 21, ao fazer uma transmissão ao vivo, Lázaro lança oficialmente seu curso online de atuação.
São 40 aulas independentes sobre assuntos diversos e de durações variadas (de 2 a 12 minutos), mas que seguem uma linha lógica, desde a preparação de um currículo até a preparação para um teste. “Não ofereço soluções definitivas, mas mostro como a dúvida pode ser sempre um fator positivo”, conta o ator, cujo trabalho estará na plataforma Navega, uma iniciativa da produtora de cinema e empreendedora Minom Pinho e de Gabriel Pinheiro, sócio do Centro Cultural B_arco.
Um dos principais pontos tratados por Lázaro é a diferença entre atuar para cinema, teatro e televisão. “Na maioria das vezes, acredito que o personagem é que dita a forma de interpretação e não a forma de divulgação do trabalho”, conta ele, exemplificando com um de seus maiores sucessos: Foguinho, inspirado em um famoso anti-herói (Macunaíma), da novela Cobras & Lagartos. “Era para ser um tipo de personagem, mas logo se transformou em outro.”
Lázaro, logicamente, utiliza seu trabalho como referência nos exemplos apresentados. “Quando o personagem é parecido comigo, sempre busco algo diferente”, explica o ator, que aponta aquele papel que tem mais características em comum com ele: André, do longa O Homem que Copiava (2003), dirigido por Jorge Furtado.
Operador de fotocopiadoras, o rapaz tem a ideia de copiar notas de 50 reais com a nova máquina colorida que chega na empresa. “À parte essa intenção de enriquecer a qualquer custo, ele era muito próximo do jovem que eu era na época, inclusive por ser canhoto, detalhe que passou despercebido”, diverte-se.
Detalhista
Em seu processo criativo, Lázaro revela-se detalhista: está disposto a participar de todos os processos, desde a leitura do texto e as improvisações até chegar à interpretação final. “Tenho uma paixão pelo ofício, que entendo como um trabalho solitário.” Por conta disso, faz questão de frisar, durante as aulas online, que não há certezas no ato de atuar.
Por conta disso, na aula sobre estudo de um texto, ele preferiu não seguir o roteiro original, que apontava para uma olhada prévia na história escolhida. “Pedi para a produção escolher um texto que eu não conhecesse a fim de descobrir o caminho da interpretação durante a filmagem”, conta ele, que convidou a atriz Naruna Costa para participar desse exercício.
Juntos, eles construíram uma cena explorando as diversas leituras e interpretações sugeridas pelas falas, a escolha do tom, as diferentes marcações de posicionamento pensando que a cena poderia ser de teatro, cinema ou TV. “Testamos como comédia, drama, suspense, foi muito rico.”
Lázaro preocupa-se em não oferecer mandamentos em suas aulas, ciente de que a interpretação é uma profissão que não pode ser engessada. Sua trajetória é um exemplo perfeito: “Mudei muito ao longo de 30 anos de carreira, percebi que minha entonação agora é outra, a compreensão que tenho do realismo é mais aprofundada. Na verdade, acredito que fiquei mais malandro e mais conhecedor dos meus recursos”, explica ele, que gravou todas as 40 aulas em cinco dias.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.