SÃO PAULO, 29 OUT (ANSA) – Por Lucas Rizzi – O Palácio Pamphilj, luxuosa construção que abriga a Embaixada do Brasil na Itália, tem um novo morador. O diplomata Hélio Vitor Ramos Filho entregou suas credenciais ao presidente Sergio Mattarella no último dia 25 de outubro e iniciou sua missão em Roma.
Como embaixador, Ramos conduzirá as relações bilaterais entre dois países historicamente próximos, até em função da migração em massa de italianos para o Brasil nos séculos 19 e 20, mas que nos últimos anos conviveram com a sombra de Cesare Battisti.
“Com a superação do caso, o caminho encontra-se aberto para o aprofundamento ainda maior da cooperação entre os dois países”, disse Ramos em entrevista à ANSA. O diplomata soteropolitano foi indicado pelo presidente Jair Bolsonaro e trabalhava como assessor especial do mandatário da Câmara, Rodrigo Maia.
Em sua carreira, já exerceu as funções de cônsul-geral em Miami, ministro-conselheiro na Embaixada em Lisboa e representante alterno junto à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Também serviu em Washington, Lima e Roma e foi ministro interino de Minas e Energia, em 2001.
Na entrevista, Ramos fala sobre seus objetivos na Embaixada do Brasil na Itália e descarta “constrangimentos” nas relações bilaterais por conta da amizade entre Bolsonaro e o ex-ministro Matteo Salvini, hoje na oposição. Confira abaixo: ANSA: Quais serão os principais objetivos do senhor como embaixador do Brasil em Roma? Ramos: Tenho como principais objetivos a promoção comercial, o aprofundamento da cooperação na área de defesa e a promoção da cultura brasileira, principalmente junto aos jovens italianos.
ANSA: Nos últimos anos, muito da relação Brasil-Itália esteve baseada em Cesare Battisti. Com sua prisão, os dois países podem deixar esse caso para trás e promover um caminho de reaproximação? Ramos: Durante anos, foi possível isolar o caso Battisti de modo a dar pleno seguimento à cooperação Brasil-Itália. Com a superação do caso, o caminho encontra-se aberto para o aprofundamento ainda maior da cooperação entre os dois países.
ANSA: Em breve, Itália e Brasil podem fazer parte de uma área de livre comércio por causa do acordo entre União Europeia e Mercosul. Como a Embaixada atuará para fortalecer a presença comercial brasileira no mercado italiano? Ramos: A conclusão das negociações do acordo comercial Mercosul-União Europeia constituiu um marco histórico que deverá contribuir para a expansão das relações econômicas entre Brasil e Itália. Nessa área, um dos objetivos é buscar novos nichos de mercado, nos quais o produto brasileiro possa ser associado a qualidade. Além disso, a promoção da marca “Brasil” deve ser considerada uma prioridade, de forma a refletir características do país nem sempre conhecidas pelos italianos, como a posse de robusto parque industrial, recursos naturais abundantes, um agronegócio moderno, sustentável e competitivo e um dos mais pujantes mercados consumidores do planeta. Da mesma forma, a prioridade é aumentar o fluxo de turistas italianos em direção ao país. Para tanto, a Embaixada tem mantido estreita colaboração com a Embratur, as secretarias de Turismo estaduais, as operadoras de turismo italianas especializadas no produto turístico brasileiro e companhias aéreas.
ANSA: Em que áreas o senhor acredita que a cooperação entre Brasil e Itália pode melhorar? Ramos: A cooperação poderá ser aperfeiçoada, sobretudo, na área de defesa. Passo nessa direção já foi dado com a 1ª Reunião de Diálogo Político-Militar entre os dois países, no começo deste mês, em Brasília. Temos de identificar as complementariedades existentes nas indústrias de defesa de ambos os países, de modo a incrementar nosso comércio bilateral e estabelecer parcerias de interesse recíproco na área. A necessidade premente de reequipamento das Forças Armadas brasileiras projeta a abertura de grandes oportunidades à indústria italiana. Ao mesmo tempo, acredito que a Itália possa beneficiar-se muito com a aquisição de aviões militares brasileiros.
ANSA: Muitos brasileiros têm tido problemas nos últimos anos por causa de irregularidades em processos de reconhecimento de cidadania italiana. Como a Embaixada pretende atuar para ajudar eventuais vítimas e para evitar que brasileiros cometam crimes para ter sua cidadania reconhecida? Ramos: A proteção dos brasileiros que buscam o reconhecimento da cidadania italiana é tema de relevo nas relações Brasil-Itália, dado o grande número de descendentes de italianos no Brasil. A Embaixada vem atuando em coordenação com os Consulados-Gerais em Roma e Milão, de modo a fortalecer a divulgação de informações e esclarecimentos sobre o tema.
ANSA: O presidente Bolsonaro é admirador de Matteo Salvini, que fazia parte do governo, mas hoje está na oposição. O relacionamento próximo entre os dois pode condicionar de alguma forma as relações do Brasil com o atual governo italiano? Ramos: Relações pessoais são importantes, mas não determinantes para a boa condução da agenda bilateral. Antes de mais nada, são os interesses permanentes e recíprocos que prevalecem. Não vislumbro, assim, quaisquer constrangimentos na relação entre o governo do presidente Jair Bolsonaro e a atual coalizão que dirige a Itália. (ANSA)