Um grupo formado por parlamentares de quatro partidos pretende pressionar o presidente Jair Bolsonaro a vetar a maior parte do projeto que flexibiliza regras eleitorais, anistia multas e dificulta a fiscalizaĆ§Ć£o de partidos. O bloco Ć© formado por Podemos, Novo, Cidadania e PSL que, juntos, somam 80 deputados e 11 senadores. Para valer nas campanhas de 2020, a proposta aprovada precisa ser sancionada atĆ© o dia 4 de outubro, um ano antes das eleiƧƵes.
O objetivo do grupo Ʃ convencer o presidente a manter apenas a parte que foi aprovada na terƧa-feira, 17, pelo Senado, que trata sobre o fundo eleitoral, usado para financiar campanhas de candidatos em 2020.
A versĆ£o aprovada na quarta-feira, 18, pela CĆ¢mara resgatou pontos polĆŖmicos do projeto. Um deles Ć© a permissĆ£o para que partidos possam utilizar recursos pĆŗblicos para bancar advogados a filiados em aƧƵes relacionadas ao processo eleitoral, sem que isso entre no limite de gastos das campanhas. De acordo com especialistas, a mudanƧa abre brecha para caixa 2 de campanha, pois dificulta a fiscalizaĆ§Ć£o – um candidato pode declarar um valor mais alto do que o contratado, por exemplo.
Entre as regras que beneficiam as legendas estĆ£o a autorizaĆ§Ć£o para usar recursos pĆŗblicos na construĆ§Ć£o de sede partidĆ”ria, a contrataĆ§Ć£o de advogados para defender filiados investigados e a volta do tempo de propaganda em rĆ”dio e TV.
MobilizaĆ§Ć£o
A ideia de formar um grupo para pressionar o presidente pelo veto ao projeto comeƧou na noite de quarta-feira. Enquanto a votaĆ§Ć£o do projeto ainda estava em curso, a presidente do Podemos, deputada Renata Abreu (SP), passou a convocar colegas para ir atĆ© Bolsonaro.
O lĆder do partido, JosĆ© Nelto (GO), tambĆ©m entrou na mobilizaĆ§Ć£o. “JĆ” conversei com parlamentares de diversos partidos e vamos pedir o veto. Queremos deixar sĆ³ o que foi aprovado no Senado”, disse o deputado. “O principal Ć© que os senadores tiraram a flexibilizaĆ§Ć£o que facilitava a prĆ”tica do caixa 2.”
Segundo Nelto, esse mesmo grupo quer evitar o aumento do fundo eleitoral durante a discussĆ£o do OrƧamento de 2020 na CĆ¢mara. “Vamos tentar manter o mesmo valor de 2018”, disse. No ano passado, o fundo teve R$ 1,7 bilhĆ£o, mas parlamentares trabalham com a possibilidade de aumentar para R$ 3,7 no ano que vem. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), Ć© favorĆ”vel a aumentar a quantia destinada Ć s campanhas municipais, embora nĆ£o se comprometa com um valor.
Para o lĆder do Novo, Marcel Van Hattem (RS), a decisĆ£o do Senado de rejeitar todas as alteraƧƵes na lei de partidos polĆticos havia sido muito bem recebida pela sociedade. “A CĆ¢mara, infelizmente, acabou frustrando em grande parte a expectativa popular”, afirmou Van Hattem.
O lĆder do Cidadania na CĆ¢mara, Daniel Coelho (PE), disse que a bancada vai se reunir para decidir se o partido tambĆ©m vai atĆ© Bolsonaro pedir os vetos, mas afirma que a sigla Ć© favorĆ”vel Ć derrubada do projeto. “Eu, particularmente, sou a favor do veto total, mas se mantiver o entendimento do Senado jĆ” resolve 90% do problema”, afirmou.
Sem fundo
O lĆder do Podemos afirmou que abrirĆ” mĆ£o do uso do fundo eleitoral para suas futuras campanhas. Ele protagonizou um embate com o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), no plenĆ”rio da Casa, no dia da votaĆ§Ć£o.
“Vou fazer uma pergunta ao deputado JosĆ© Nelto, que estĆ” dizendo que eu nĆ£o estou respeitando o Regimento Interno. Vossa ExcelĆŖncia poderia dizer no microfone se o seu partido utilizarĆ” o recurso do fundo eleitoral no prĆ³ximo ano, porque aĆ fica claro que a sua posiĆ§Ć£o Ć© contra a votaĆ§Ć£o no dia de hoje. Fica transparente, democrĆ”tico, e cada um assume a sua responsabilidade no dia de hoje”, questionou Maia no plenĆ”rio.
“NĆ³s assumimos, eu assumo a minha responsabilidade de nĆ£o usar, no ano que vem, o fundĆ£o eleitoral”, respondeu o lĆder do Podemos.