Persistente como uma doença crônica, a crise política continua a desafiar a saúde do Brasil e dos brasileiros. Seus personagens centrais, o presidente da República, seus ministros e seu partido – ofegantes neste final de agosto que teima em não terminar –, experimentam os altos e baixos da moléstia. Depois da bem recebida entrevista do ministro Palocci, que funcionou como um medicamento novo, ainda não experimentado pelo paciente, a febre logo recrudesceu com a segunda pesquisa do Ibope, divulgada na terça-feira. Na primeira, publicada no sábado, com exclusividade por ISTOÉ, Lula empataria com Serra, em um eventual segundo turno das eleições presidenciais do próximo ano. Na segunda pesquisa, Lula não passaria por ele, já no primeiro turno. Isso fez a pressão subir e o tom dos discursos também. Em Brasília, Lula disse que não fará o que fizeram Getúlio, Jânio e João Goulart. Ou seja, ele não pensa em renúncia nem em suicídio. É um mau sintoma o fato de um presidente da República vir a público e negar que vá renunciar ou, pior, suicidar-se. Só a abordagem do tema já demonstra a patologia instalada no País.

Com tudo isso, vale ler a entrevista publicada nas páginas vermelhas desta edição com Ibsen Pinheiro, o ex-deputado que presidiu o impeachment de Collor. Vítima de erro jornalístico, ele foi cassado e hoje é vereador pelo PMDB em Porto Alegre. Saudável exemplo de lucidez, ele disse ao repórter Luiz Cláudio Cunha que o bom sinal é que Lula não é Collor, mas cita Ulysses Guimarães, para quem, nas crises, quem comanda é Sua Majestade, o Fato. E os fatos, reais ou maldosamente imaginados e plantados, não param de aparecer.

Nessa enfermaria verde-e-amarela, ISTOÉ procura ir além da missão primeira da imprensa, que consiste em separar o joio do trigo. E publicar o trigo e não o joio, é bom que se frise. Pela quarta semana consecutiva, a revista apresenta debates reunindo juristas, cientistas sociais, estudantes, artistas e economistas para buscar redesenhar os caminhos que o País poderá trilhar para sair dessa crise e evitar se deparar com recaídas a cada dois ou três anos.