O presidente Lula bate um bolão, todos sabem. Não fosse assim, não teria 80% de popularidade. Mas, às vezes, exagera. Age como o dono da bola, que define as regras do jogo e quem entra em campo. Dias atrás, às vésperas do centenário do seu time, ele preparou o terreno para que o Corinthians tivesse uma festa épica. Primeiro, articulou com a maior empreiteira do País a construção de um estádio. Pelas estimativas iniciais, que serão revistas para cima, a “casa própria” do Timão custará R$ 350 milhões. Depois, como nenhuma construtora é – nem deveria ser – uma entidade filantrópica, o governo pavimentou o caminho para que o BNDES (sempre ele) financie a obra. Resultado? Lula posou de Papai Noel com o dinheiro alheio, virou presidente de honra da República Popular do Corinthians – é assim que o clube se denomina – e disseminou o discurso de que teria garantido a participação da cidade de São Paulo na Copa do Mundo de 2014, supostamente ameaçada pelo DEM, na prefeitura, e pelo PSDB, no governo estadual.

Politicamente, pode ter sido um gol de placa. Mas, olhando com cuidado, talvez se descubra que o lance foi como aquele de Luis Fabiano contra a Costa do Marfim na última Copa – a bola foi ajeitada com a mão, num jogo em que o juiz saiu de campo sorrindo e cochichando com o atacante. No futuro estádio do Corinthians, quem fez vista grossa para o improviso foi o presidente da CBF, Ricardo Teixeira. O cartola que rejeitou 13 projetos do São Paulo para a reforma do Morumbi é o mesmo que aceitou o do Corinthians, sem nenhum estudo aprofundado, confiando apenas na “credibilidade” do Timão. O que prova que o São Paulo foi feito de palhaço no processo de escolha de uma das sedes da Copa de 2014.

Além disso, custa crer que a solução corintiana tenha sido privada. Fosse assim, o presidente do time, Andrés Sanchez, não teria recorrido ao Palácio do Planalto. O discurso oficial é o de que o retorno da construtora virá com os chamados naming rights – a venda do nome da arena a empresas privadas. No Brasil, só houve uma experiência do gênero – e deu errado. Ela foi feita pelo Atlético Paranaense, que cedeu à empresa Kyocera o direito de uso da marca no seu estádio. A iniciativa fracassou porque as emissoras que transmitem futebol no Brasil não citam nomes de empresas privadas – exatamente por isso, a Arena Kyocera sempre foi chamada de Arena da Baixada. E já se diz até que o futuro estádio do Corinthians terá o apelido de “Lulão”. Portanto, o mais provável é que ele seja pago por são-paulinos, palmeirenses, flamenguistas e até corintianos – ou seja, por todos os contribuintes, incluindo os que detestam o esporte. E o acerto final será tão secreto como aqueles acordos de cartolas para arranjar resultados em partidas de futebol.