Ser bom de cama já não basta ao homem brasileiro. Ele quer mais – mais vezes, mais intensidade na relação e, como nunca, quer dar mais prazer à mulher. Seria exagero dizer que ele agora gosta de discutir a relação – situação ainda evitada pela maioria dos machos. Mas, pelo menos sob os lençóis, está preocupado em conhecer e atender a desejos e particularidades do universo íntimo feminino. Ele quer fazê-la chegar ao puro êxtase. Para tanto não se furta mais em aprender sobre a mulher. Ela virou “a juíza da alcova”, como analisa a psiquiatra Carmita Abdo, diretora do Projeto Sexualidade da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. A imagem de uma mulher vestida de toga pode provocar devaneios, mas vai muito além do fetiche. Carmita quer dizer que “o homem quer ser bem avaliado (ou julgado com louvor) pela mulher. Está preocupado e tem medo de ser substituído”. Não é difícil entender o motivo. A mulher já não depende financeiramente de seus parceiros e, atualmente, tem um tempo maior de experimentação sexual. “Em quatro décadas, ela antecipou em cinco anos sua iniciação. Hoje, começa a transar aos 15 e se casa por volta dos 30. É um tempo de atividade sexual lícita, reconhecida como normal pela sociedade”, explica a especialista, que acaba de coordenar no Brasil uma pesquisa mundial sobre a sexualidade masculina.

No estudo, feito sob encomenda do laboratório Bayer à empresa Ipsos de pesquisa de mercado, foram ouvidos oito mil homens com mais de 18 anos de oito países (Alemanha, Brasil, Canadá, Espanha, França, Inglaterra, Itália, México). Dos mil brasileiros participantes, 97% declararam ser essencial ou importante satisfazer sexualmente a parceira. A média européia está logo atrás, com 96%. Mas para o brasileiro o tema tem um peso muito maior: 52% acham que o sexo é muito importante em suas vidas e 33% desejaram nos últimos cinco anos melhorar sua vida sexual. Entre os europeus, apenas 35% consideram sexo prioridade e só 16% pensaram em aprimorar a transa. “O brasileiro está ansioso em entender o mecanismo do prazer feminino”, aponta Carmita.

Avidez – Exemplo dessa preocupação masculina, um grupo de amigos – homens entre 20 e 50 anos – pediu à psicóloga e terapeuta de casais Márcia Bittar, de Campinas, que organizasse para eles uma palestra sobre relacionamento e sexualidade. Eram 50 marmanjos, no bar de um deles, ouvindo Márcia com atenção. “Isso não aconteceria há cinco anos. Hoje há uma avidez por informações”, diz a psicóloga. “A maioria dos homens não tem o hábito de falar de emoções. Falam de negócios e de mulher, mas para contar vantagens. Usam um arquétipo de autodefesa, uma demonstração de poder, é como um alerta para espantar os outros machos”, explica Márcia. O comerciante Ricardo Miranda, 33 anos, foi um dos participantes do encontro e achou a experiência “interessante”: “Quanto mais você sabe, melhor fica a relação. Evita dor de cabeça. Se a namorada estiver feliz, não vai procurar outro. Perder a vergonha de falar sobre certas coisas libera preconceitos.” Ele conta como surgiu a idéia da palestra. “Temos uma confraria. Parte do grupo se encontra toda segunda à noite para cozinhar e bater papo. As mulheres morrem de inveja”, diverte-se.

Para Márcia Bittar, esse bem-vindo interesse masculino também se deve às
gerações de remédio contra impotência. “Com esses medicamentos, os homens relaxaram com a obrigação de manter a ereção e puderam olhar mais para a
relação”, diz. Existe, porém, uma proximidade grande entre a cobrança de uma perfomance excepcional e um mau desempenho. Entre os fatores que pesam negativamente na hora H, a preocupação de satisfazer a parceira aparece mais do que o terrível medo do desemprego. Embora dificuldades no trabalho também
tenham uma influência importante.

Quanto mais ansiosos os homens estiverem para satisfazer essa mulher que, a
seus olhos, é de uma exigência atroz, maior a probabilidade de ele falhar ou sofrer
de ejaculação precoce, por exemplo. Talvez por isso a pesquisa da Bayer mostre que o brasileiro, apesar de mais preocupado com a parceira, falha mais. Segundo o estudo, 30% dos brasileiros contra 24% dos europeus afirmaram já ter tido algum
tipo de disfunção erétil. Outro fantasma que pode transformar em pesadelo os
sonhos eróticos masculinos é a traição. A terapeuta Márcia observa que o homem começa a se dar conta de que ela pode, como ele, pular a cerca. “A busca sexual
da mulher é igual à do homem. Nem sempre o motivo da traição é a frustração com
o parceiro. Há o desejo de viver outra vida, recomeçar, conhecer. A mulher, cada vez mais, reivindica o próprio prazer.”

E reivindica mesmo. Depois de 13 anos de união – quatro de namoro e nove de casamento –, a atriz carioca Renata Amaral, 33 anos, decidiu se separar. Loira, bronzeada de sol e bonita, viu a relação esfriando e resolveu virar a mesa. “Acredito na instituição do casamento, claro. Mas acho que ela tem prazo de validade.” Mãe de dois filhos (Pedro, quatro anos, e Juliana, oito), Renata preferiu encarar a batalha da separação do que ignorar sua libido. “Chega um momento em que, por mais que os dois tentem, a transa já não rola da mesma maneira. E aí, não tem vinho, jantar à luz de velas ou conversa que resolva”, diz. Outro fator que também contribuiu para sua decisão foi o fato de a atriz ter se casado relativamente cedo. “Quando começamos a namorar eu tinha apenas 20 anos. Fazendo as contas, se perdi a virgindade aos 16, e tenho 33, passei muito mais tempo da minha vida sexualmente ativa com meu ex-marido, do que sem ele. Algo raro entre as mulheres da minha geração”, completa.

Experimentação – Para o sexólogo Moacir Costa, coordenador do projeto Amar Bem, que oferece orientações sobre vida sexual e afetiva através do 0800-7706543, muitas mulheres entre 35 e 45 anos vivem uma espécie de adolescência tardia. Elas estudaram, trabalham, mas sexualmente só conheceram seus maridos. Começaram a namorar com 16 ou 17 anos, casaram aos 22 e logo tiveram filhos. “Com tão pouca vivência, acertar no casamento é mais difícil. Mais tarde, elas sentem que não viveram. E ou se separam ou não se desfazem do casamento, mas entram numa fase de experimentação tardia”, explica.

As novas transformações também trazem queixas mais sutis do que a exigência da performance na cama e do medo da traição. Como o desencontro de expectativas e certa nostalgia. O gerente administrativo Marco Fábio de Camargo Franco, 52 anos, de São Paulo, por exemplo, é um homem antenado com seu tempo. Divorciado e sem namorada no momento, ele também se preocupa em corresponder aos anseios femininos. Acha, porém, que, com essa igualdade entre homens e mulheres, algo do romantismo se perdeu. “Tive uma namorada que não gostava de ser paparicada. Todo mundo gosta de atenção, ela não. Mulheres de menos de 30 anos não sabem o que são serenatas ou gentilezas, como abrir portas”, diz. Tem saudade dos tempos de estudante, que passou em Lavras, interior de Minas Gerais: “Fiz muita serenata de madrugada e tomei muito cafezinho com pão de queijo na janela. Era assim, a menina piscava a luz para dizer que estava ouvindo e as mais desinibidas abriam a janela e ofereciam café”, relembra.

Cada vez mais em pé de igualdade com os homens, as mulheres juízas da alcova realmente preocupam os homens. E, como afirma Carmita Abdo, interferem diretamente nos pilares que sustentam a identidade masculina. Mas para melhor. “Ele continua preocupado com o tamanho do pênis e com quantas mulheres pode conquistar. Isso para contar para os amigos. Mas agora também quer ser insuperável para sua parceira. A mulher é menos focada no sexo. Ela pode nem estar pensando nisso, mas ele está”, garante a especialista. Mulheres, comemorem!