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Considerada uma das cidades mais tolerantes do mundo, Nova York ficou famosa por acolher delírios arquitetônicos. Um projeto recém-aprovado pela prefeitura, porém, tem colocado essa permissividade à prova. Trata-se da 15 Penn Plaza, uma enorme torre comercial prevista para ser erguida a dois quarteirões de distância do lendário Empire State Building, cartão-postal da metrópole que pode acabar ofuscado pela novidade. “Ir adiante com esse projeto seria estragar a silhueta da cidade”, bradou Peter Malkin, do grupo proprietário do ícone histórico. Em pesquisa do “New York Daily News”, 63% dos nova-iorquinos pediram veto à obra, enquanto 71% julgaram-na uma mudança para pior. A construção chegou a ser comparada à instalação de uma plataforma de petróleo ao lado da Estátua da Liberdade. “A identidade de Nova York e o legado cultural que deixaremos estão em jogo”, alertou Malkin.

Todo o clamor não impediu a aprovação da obra – a construtora prometeu doar para a prefeitura US$ 100 milhões para serem gastos em melhorias como ampliação de calçadas, plataformas de metrô e criação de passagens subterrâneas –, mas criou uma pertinente discussão. Por que uma cidade como Nova York, que se alimenta do novo, está agindo de forma tão conservadora? Thais Funcia, diretora da escola de turismo da Universidade Anhembi Morumbi (SP), argumenta que o interesse em preservar o rico mercado de turismo não é justificativa. “Para o visitante, um prédio novo é mais uma razão para visitar a cidade e fazer novas fotos”, diz.

O professor de arquitetura da Universidade de Brasília, Frederico Flósculo, arrisca uma explicação. Segundo ele, a queda das Torres Gêmeas nos ataques do 11 de setembro ainda reverbera entre os nova-iorquinos como exemplo da fragilidade americana. Em contrapartida, os arranha-céus sobreviventes tornaram-se símbolos de resistência. Nesse sentido, diminuí-los seria um desrespeito. “Ver uma cidade como Nova York, ícone do dinamismo contemporâneo, se apegar ao passado é uma curiosa contradição”, reconhece. Con­traditórios ou não, os protestos devem con­tinuar.

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