Misto de Xuxa e Super-Homem, um herói islandês difunde discursos politicamente corretos para as crianças brasileiras. Na contramão de quase tudo o que é feito para o público infantil, o personagem Sportacus, da série de tevê LazyTown, exibida pela Discovery Kids, é inimigo da cultura do fast-food e um inusitado devorador de legumes. Prefere cenoura, como o Pernalonga. Sportacus incentiva os baixinhos a ter uma dieta saudável, a praticar exercícios regularmente e até a entender o valor do dinheiro. É interpretado por Magnus Scheving, hoje o islandês mais conhecido no planeta, depois, é claro, da cantora pop Björk, que já vendeu mais de seis milhões de discos. Figura mais eclética é difícil imaginar. O homem é ator, produtor, diretor de programas de tevê, escritor e atleta bicampeão europeu de aeróbica.

Da fria e quase desabitada Islândia – o país onde mais se lê no mundo, com 280 mil habitantes e apenas 2,8 moradores por quilômetro quadrado –, LazyTown foi levado para o Canadá e os Estados Unidos, onde foi exibido pelo canal Nickelodeon, e, no momento, é exibido em 34 países da América Latina. Neste mês, estréia na França, Áustria, Noruega, Alemanha, Suíça, Itália e Espanha. Exigiu investimentos de US$ 50 milhões em 12 anos e é gravado num moderno estúdio de cinco mil metros quadrados, em Gardabaer.

No Brasil, a Discovery Kids mostra o seriado desde abril, diariamente, às 12h e às 18h30. A idéia do LazyTown surgiu em 1991, a partir das 500 perguntas mais freqüentes de pais, que Scheving costumava receber, sobre a melhor maneira de oferecer uma vida mais saudável às crianças. Daí, veio um vídeo e a criação de uma rádio com 24 horas de programação, além de jogos, brincadeiras e produtos variados. Outro sucesso foi o Livro da energia, que estimula pais e filhos a assinar um contrato, pendurado na geladeira das residências, a partir do qual as crianças se obrigam a beber determinadas quantidades de água, a comer frutas, a escovar os dentes três vezes por dia e a fazer exercícios físicos e tarefas domésticas. Se abusarem dos doces, por exemplo, perdem pontos. Por razões óbvias, gigantes como a Coca-Cola e o McDonald’s nunca irão morrer de amores pelo herói Sportacus. Em períodos de campanha em favor da vida saudável em seu país, Scheving conseguiu fazer a venda de refrigerantes cair 14% e o consumo de vegetais subir 16%.

O herói que bebe água de uma antiga geleira islandesa com dois mil anos de existência sempre motiva as crianças a mudar seus hábitos alimentares. “Podemos ficar sentados de braços cruzados ou nos colocar em ação. É uma questão de tomar decisões”, afirma Scheving, lembrando que em seu país, que exporta pescados para todo o mundo, as crianças param de comer peixe aos 12 anos. Além de Sportacus – que corre, salta, dá cambalhotas e navega pelos ares numa espaçonave –, outra personagem que atrai a garotada é Stephanie, uma menina de oito anos que vai morar em LazyTown com o tio, prefeito da cidade. Lá, ela conhece figuras excêntricas, como o vilão Robbie Rotten, tido como o homem mais preguiçoso do mundo. Rotten, que significa podre em inglês, quer ver as crianças entupidas de doces e pizzas. Mas o discurso do bem e do ideal, a princípio chato, chega de uma maneira divertida. E brincar de comer cenoura é uma boa idéia para os 10% dos adolescentes brasileiros considerados obesos e para os 22 milhões de crianças ocidentais que estão acima do peso.


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