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FUNERAL
Ex-presidente Roh Moo-hyun se jogou do alto de um
morro. Motivo: ele diz que fez muita gente sofrer

Neto do fundador da Samsung e herdeiro de uma das maiores fortunas da Coreia do Sul, Lee Jae-chan, 46 anos, pulou para a morte do sétimo andar de seu apartamento numa região nobre de Seul, capital do país. Sem exercer nenhuma atividade profissional desde 2000, quando brigou com a família, Jae-chan era um sujeito solitário, mas jamais deu indicações de que poderia cometer suicídio. Alguns meses antes, o ex-presidente Roh Moo-hyun, que comandou a Coreia de 2003 a 2008, se jogou do alto de um morro. No bilhete que deixou para familiares, escreveu que se arrependia de “ter feito muita gente sofrer.” Há alguns dias, um dos maiores empresários da construção civil da Ásia deu um tiro no peito, justificando que enfrentava dificuldades financeiras. Por envolver cidadãos conhecidos, esses foram alguns dos casos de suicídio mais rumorosos nos últimos meses. Mas não foram os únicos – longe disso. A Coreia do Sul vive uma onda de suicídios que chegou a todas as classes sociais e que ceifou a vida de homens, mulheres, jovens e velhos de todas as regiões do país. O que estaria levando uma das nações mais ricas da Ásia a passar por um problema desse tipo? Eis uma pergunta para a qual as autoridades locais ainda não encontraram resposta.

Em 2009, 14.579 sul-coreanos cometeram suicídio, um aumento de 18% em relação a 2008. Isso significa que a taxa de mortes desse tipo é de 30 por 100 mil habitantes. Dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) revelam que nenhum de seus 32 membros apresenta números tão alarmantes – no Brasil, o índice está em 25,2 por 100 mil pessoas. A Coreia do Sul está à frente inclusive do Japão, país em que o ato de tirar a vida é ancestral, perpetuado por guerreiros samurais que cometiam o harakiri (ritual em que a pessoa apunhala a própria barriga). Até agora, não apareceu nenhuma explicação convincente. Alguns especialistas acreditam que um dos problemas é a forte pressão social por desempenho, o que impõe ao cidadão a obrigação de ser bem-sucedido principalmente na carreira. Outros alegam que as mortes são resultado do envelhecimento da população. Segundo essa vertente, muitos idosos vivem sozinhos na área rural, são pobres e creem que o suicídio é um ato de purificação da alma.