Com freqüência têm surgido no mundo novidades a respeito de um dos campos de pesquisa mais comentados nos últimos tempos, o das células-tronco embrionárias, aquelas que podem ser induzidas a gerar qualquer tecido humano. Sinal de que os cientistas estão realmente concentrando esforços nessa área que promete tratar as mais variadas doenças. Na semana passada, a notícia mais alvissareira veio da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Os pesquisadores Kevin Eggan e Douglas Melton anunciaram ter reprogramado células adultas para que elas apresentem as características do estado embrionário, fase em que são pluripotentes. Ou seja, que podem ser transformadas em células sanguíneas, pancreáticas, ósseas ou em outras unidades do corpo.

A reprogramação consistiu em desenvolver uma estrutura híbrida, obtida a partir da fusão de células da pele com células-tronco embrionárias. Dessa forma, o resultado foi um terceiro tipo de célula. A experiência, entretanto, não pode ser vista como mais uma forma de terapia. Pelo menos, não agora. Os cientistas de Harvard salientaram que a célula reprogramada, tal como se encontra no momento, aponta para um futuro em que células adultas poderão ser alteradas para que se comportem como se estivessem na fase embrionária. A razão do cuidado é simples. Para criar a célula híbrida, os especialistas se valeram de células retiradas de embrião, um processo ainda polêmico, especialmente nos EUA – o governo George Bush não apóia esse tipo de pesquisa. As células-tronco embrionárias usadas no estudo tinham sido liberadas para esse fim. “Ainda haverá pessoas se opondo porque as células foram derivadas de um embrião humano”, declarou Eggan. A equipe pretende esmiuçar o processo que culminou na transformação para que dentro de alguns anos uma célula adulta possa ser “repaginada” sem a necessidade de se recorrer a uma célula embrionária.

Outro ponto que deverá ser aprofundado é o fato de a nova célula carregar o dobro
de cromossomos do normal. Isso porque a estrutura híbrida contém o código genético da célula adulta e também da embrionária. Por esse motivo, a técnica
não está pronta para ser aplicada em seres humanos. “Ela não é para todos os casos e precisa de mais estudos”, comentou Eggan. A cientista brasileira Mayana Zats, da Universidade de São Paulo, compartilha da cautela. “É um trabalho importante, mas ainda se trata de uma pesquisa”, diz. Há dois meses, pesquisadores coreanos conseguiram também produzir células-tronco embrionárias a partir da inserção do material genético de células da pele em óvulos dos quais haviam sido extraídos o núcleo.