Furacões cada vez mais constantes.
Chuvas torrenciais como as que
provocaram deslizamento de terra e
enchentes na Suíça, Alemanha e Áustria.
E que soaram o alarme na Romênia, onde
milhares ficaram desabrigados e mais de três dezenas morreram arrastadas pelas enxurradas. A lista de catástrofes climáticas da semana passada inclui ainda o verão mais quente dos últimos 15 anos na Península Ibérica. Só em Portugal, foram mobilizados quatro mil bombeiros, quase mil veículos e 40 aeronaves para conter a fúria das chamas que destruíram uma área verde do tamanho de 30 mil campos de futebol.

No Brasil, a má notícia ficou por conta das chamas que engoliram metade de um parque nacional na ilha Bandeirante, no Paraná. São todos sinais da tão anunciada mudança climática, certo? A resposta é sim e não. Quando se trata de prever o clima, não há certezas absolutas. “É impossível garantir de pés juntos que o aumento na incidência desses eventos extremos não seja conseqüência da mudança climática”, diz o pesquisador Paulo Artaxo, da Universidade de São Paulo (USP). “Mas também é impossível garantir que seja”, completa.

Estudar o clima é uma atividade complexa por vários motivos. Primeiro porque as análises meteorológicas levam muitas coisas em consideração, como a quantidade de poluentes emitidos pelas chaminés e a capacidade das florestas em absorver esses gases causadores do efeito estufa, que criam uma capa protetora e impedem o calor do Sol de voltar ao espaço. Também não existe um único sistema de previsão climática, o que inviabiliza análises comparativas. Por último, é impossível colocar em prática experimentos de longo prazo.

A verdade é que não há conhecimento suficiente para garantir as flutuações do clima no médio e longo prazo. Diante de tamanha ignorância, os cientistas alertam, é importante cuidado com o que lançamos na atmosfera. “Não podemos tratá-la como uma gigantesca lata de lixo porque isso cedo ou tarde pode trazer sérias conseqüências”, avisa Artaxo. Ele compara o clima da Terra a um doente: “Enquanto não se sabe qual é a doença, o melhor remédio é não abusar.”

Nos últimos dez anos, nunca se acompanhou com tanta precisão a dança dos termômetros. No Brasil, os principais centros meteorológicos fazem um esforço conjunto para traçar cenários e previsões de chuva para os próximos seis meses. “Quando as águas do Atlântico estão mais quentes do que o normal, há chuva mais intensa no Sudoeste do Brasil”, diz Antonio Divino Moura, diretor do Instituto Nacional de Meteorologia. “A memória do clima está nos oceanos tropicais, e a seca vem do mar”, diz Moura, um dos primeiros brasileiros a integrar a força-tarefa de cientistas que lançou as sementes do Protocolo de Kyoto.

Além dos efeitos provocados pelas ações humanas, o clima sofre oscilações naturais recorrentes. É exatamente isso que ocorre com o Nordeste brasileiro. “Há indícios de que estamos adentrando um período favorável para a ocorrência de estiagem nos próximos dez anos, assim como já ocorreu na década de 80”, diz Moura. Esse tipo de previsão é fundamental para o governo planejar suas ações e tornar as populações menos vulneráveis.

No caso do Nordeste, uma das formas de minimizar o impacto da estiagem é retirar os trabalhadores das lavouras. “Nos últimos anos, com o uso das previsões climáticas, no Ceará, deslocou-se mão-de-obra da agricultura para outros setores como a construção civil”, explica o cientista. Isso mostra que a ciência do clima tem uma responsabilidade social grande. Por isso, as previsões devem ser bem feitas e, sobretudo, levadas muito a sério.