Os integrantes da CPI dos Correios parecem convencidos de que o doleiro Toninho da Barcelona pode fornecer dicas sobre as contas do PT no Exterior. Mas documentos obtidos por ISTOÉ mostram que as pistas que poderão levar à rota do dinheiro do mensalão vão em outra direção. O dinheiro que pagou as dívidas de campanha com o publicitário Duda Mendonça no Exterior tem um pé fincado em escritórios de empresários, doleiros e banqueiros de Belo Horizonte. Ou seja, pode não ter havido empréstimo algum entre Valério e o PT. Afinal, se o empréstimo existisse mesmo, não haveria nenhum motivo para fazer pagamentos em dólar lá fora. A única explicação plausível, avaliam integrantes da CPI dos Correios, é a de que, na verdade, o dinheiro usado para pagar Duda já estava no Exterior. A GD International Corp, uma das empresas que depositaram dinheiro em favor do marqueteiro, pertence ao empresário e diretor do Clube dos Dirigentes Lojistas de Minas Gerais, Glauco Diniz Duarte, e a seu ex-funcionário Alexandre Vianna Aguilar.

Laços – A empresa nasceu em 1999 no balneário de Pompano Beach, na Flórida, e parece ter vocação para movimentar dinheiro de políticos e empresários no Exterior. Ligado a empresas de factoring, Glauco despacha num escritório no bairro da Savassi e tem fortes laços com a política. É genro do ex-prefeito de BH Maurício Campos, um cacique histórico do PL. É também sócio em uma empresa têxtil do empresário Nagib Callil El Abras, que em 2002 coordenou a campanha do ex-governador Newton Cardoso.

Nos últimos cinco anos, a dupla Glauco-Nagib se aproximou do publicitário Marcos Valério, que passou a utilizar a GD para movimentar dinheiro no Exterior. Entre 2002 e 2003, a GD, cujo braço mineiro se chama GD Participações e Empreendimentos, movimentou nada menos que US$ 15,6 milhões no MTB Bank, uma das maiores lavanderias do planeta. Os documentos demonstram que a maior parte das transações teve o objetivo de trazer recursos para dentro do País, e não enviá-los, o que corrobora a tese que considera os empréstimos ao PT uma fraude. Três outras empresas offshore que pagaram Duda no Exterior também têm elo com Belo Horizonte. Aberta no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas, no Caribe, a Radial é operada por um conhecido doleiro de BH, Camillo Assunção, preso pela Polícia Federal em 2004 junto com outros 60 doleiros, na Operação Farol da Colina.

Em 2003, a Radial internou por meio de contas de doleiros no MTB cerca de US$ 1,5 milhão. O Trade Link Bank, que aparece movimentando US$ 700 milhões no MTB, é o braço caribenho do também mineiro Banco Rural, ligadíssimo a Marcos Valério. Controlada pelo mesmo banco, a Rural Europa, com sede na província portuguesa da Ilha Madeira, tem igualmente vocação para lavanderia. Fez cinco operações por meio de doleiros no MTB em 2003.


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