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NARCOPODER
O sobrevivente Luis Pomavilla (acima), corpos de vítimas e San Fernando,
cidade controlada pelo cartel Los Zetas
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Apenas este ano mais de 200 brasileiros foram deportados do México, onde haviam entrado ilegalmente, tentando alcançar os Estados Unidos. Rumo ao chamado sonho americano, esses brasileiros sabiam que precisavam sobreviver a três grandes obstáculos: o deserto inóspito; a bandidagem dos coiotes, como são conhecidos os traficantes de homens de um lado para outro da fronteira; e a dura vigilância da polícia dos Estados Unidos. Na semana passada, a crueldade dos cartéis do narcotráfico se impôs como o quarto obstáculo mortal da travessia. Numa escalada da violência que estremece o país, 72 estrangeiros foram executados no galpão destelhado de uma fazenda do município mexicano de San Fernando, 160 quilômetros ao sul de Brownsville, no Estado americano do Texas. Na sexta-feira 27, diplomatas do Brasil acompanhavam as investigações, pois informações do Ministério de Relações Exteriores do México indicavam que havia brasileiros entre os imigrantes sequestrados e mortos. O documento de identidade de um brasileiro foi encontrado junto aos corpos.

Nos últimos tempos, o sequestro de imigrantes ilegais já havia se transformado em fonte adicional de renda para os cartéis da droga. A Comissão Nacional de Direitos Humanos (CNDH) do México estima que a cada mês cerca de 1.600 estrangeiros são vítimas de sequestro em sua trajetória em direção aos Estados Unidos. “Agora, eles não só são sequestrados, como também executados”, diz Raúl Plascencia Villanueva, da CNDH. O primeiro sinal do massacre foi emitido na manhã da segunda-feira 23, quando o equatoriano Luis Freddy Lala Pomavilla, 18 anos, chegou ferido à bala num posto de controle da Marinha mexicana. Seu relato de que era o único sobrevivente de um ataque do narcotráfico foi recebido com reservas pelos militares. Horas depois, porém, um grupo de reconhecimento aéreo detectou indícios da violência.

No dia seguinte, após enfrentamento que culminou em quatro mortes, os militares entraram no galpão, onde os corpos de 58 homens e 14 mulheres foram encontrados, com as mãos atadas e os olhos vendados. Pelo relato do sobrevivente, o comboio com os imigrantes ilegais – originários do Brasil, do Equador, de El Salvador e de Honduras – foi abordado pelos traficantes numa estrada. Diante da recusa do grupo em atuar para o cartel, um dos líderes ordenou a chacina. Ainda segundo o sobrevivente, os narcotraficantes se identificaram como integrantes de Los Zetas, o cartel que controla a cidade de San Fernando. Liderados por militares de elite que desertaram no final dos anos 1990, Los Zetas trabalharam no começo para o car­tel do Golfo, mas depois se separaram do antigo aliado, que age na mesma região.

“Os Zetas se converteram num pro­blema de segurança nacional, ao superar a capacidade de resposta do governo”, afirma o analista mexicano Jorge Chabat, do Centro de Investigação e Docência Econômica do México. Do outro lado da fronteira, Howard Campbell, professor de antropologia da Universidade do Texas em El Paso, ressalta que muitos criminosos comuns utilizam o nome do grupo “para assustar suas vítimas”. “Os Zetas tornaram-se uma espécie de mito como Pancho Villa. Sua origem é obscura e ninguém sabe quantos são exatamente”, explica Campbell.

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MUNIÇÃO PESADA
Armas encontradas no local do massacre

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Sejam quem forem os executores, a chacina dos 72 imigrantes reflete a capilarização da violência na região da fronteira. No final de junho, os brasileiros Renato Alcântara Orsine e Ernani Vieira Ramos viveram o drama de perto. Eles deixaram a cidade onde viviam, Ladainha (MG), para entrar nos Estados Unidos por meio da fronteira mexicana. A aventura acabou no sequestro de ambos e num pedido de resgate de US$ 10 mil. A família pagou o resgate, mas Orsine e Ramos continuaram detidos numa casa do subúrbio do Texas. Provavelmente seriam mortos, caso o FBI, a polícia federal americana, não tivesse localizado o cativeiro. Apesar de relatos como esses, Ladainha, as­sim como outras cidades sem recursos do Brasil, continuam “exportando” ilegais para os Estados Unidos. Como o México agora exige visto para brasileiro, a rota da migração ilegal começa na América Central.


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