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VÍGILIA
Parentes e amigos dos mineiros acampam nas proximidades da entrada da mina

O mundo assiste estarrecido a uma tragédia incomum. É o drama dos 33 mineiros chi­lenos soterrados a 700 metros de pro­fundidade desde o dia 5 de agosto, quando a entrada principal de uma mina de cobre, ouro e prata, localizada na região do deserto do Atacama, ruiu. E o que faz esse drama diferente de outros mais recorrentes, como o ter­remoto que acometeu o mesmo Chile em fevereiro deste ano e matou 763 pessoas, é o fato de essa tragédia ter resultado em uma situação tão terrível quanto imponderável: o resgate deverá levar quatro meses, segundo as es­timativas mais otimistas, podendo o prazo estender-se a mais dois meses. Com os 33 operários, padecem seus familiares. E em torno deles formou-se um verdadeiro circo midiático, com­­posto por jornalistas, equipes de tevê, fotógrafos e toda sorte de parafernália para registrar em tempo real tudo o que se passa ali.

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Os mineiros foram localizados na segunda-feira 23 e em poucos dias a região da mina, distante 800 quilômetros de Santiago, foi invadida. Há mais de 300 pessoas acampadas nas imediações do local do acidente e o movimento é constante durante o dia e a noite. Os hotéis da cidade de Copiapó, a mais próxima da mina, estão lotados. “Além de jornalistas, há os técnicos que trabalham no resgate”, diz Mario Vidal, atendente do Hotel Bordeaux. Também engrossam o grupo os 150 operários que conseguiram sair das galerias antes do acidente. “São todos meus amigos”, lamentou Nelson Ibarra, um dos mineiros que conseguiram escapar.

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AO VIVO
Tevê chilena transmite o sofrimento dos mineiros

A difícil tarefa de transmitir aos ope­rários a notícia do tempo que levará o resgate coube ao líder máximo do Chile, o presidente Sebastián Piñera. O mi­nis­tro da Saúde, Jaime Mañalich, que também se deslocou para o Atacama, declarou que as vítimas entenderam o que se passará e que trabalharão para ajudar as equipes. Os familiares estão otimistas, mas não escondem a apreensão diante do longo tempo que eles permanecerão soter­rados. “Penso que meu pai esperará com serenidade. Espero que ele e todos aguentem firme”, disse à ISTOÉ Steger Ojeda, filha de José Ricardo Ojeda Vidal, um dos 33 mineiros. A preo­cupação de Steger é a mesma de Elvira Val­divia, esposa de Mario Sepúlveda. Ela teme pelo equilíbrio psicológico do marido. “Ele sempre foi um líder nato. Imagino que ele saberá coordenar a situação, mas rezo para que ele man­tenha sua sanidade”, disse Elvira. Entre os mineiros, a faixa etária varia de 19 a 63 anos.

No mesmo dia em que os mineiros foram localizados, chegou a perfuratriz que será a responsável pelo resgate. Por meio de brocas de grosso calibre será aberto um canal por onde os homens serão içados à superfície. A máquina fará um orifício vertical de 66 centí­metros de diâmetro e 700 metros de profundidade para permitir a saída dos mineiros. Para que caibam na pequena gaiola que os puxará, os operários estão recebendo uma dieta especial, que chega até eles por meio de “cordões umbilicais”, como foram batizados os pequenos dutos de quase sete centímetros de diâmetro cavados para levar água, ali­mento, luz e esperança aos mineiros. É por meio deles, também, que são enviadas as cartas de familiares e por onde recebem ajuda de psicólogos. Eles já perderam, em média, dez quilos e tentam se adaptar à temperatura constante de 38 graus centígrados. O desejo de Luis Urzúa Iribarren, que está liderando o grupo dos 33 neste momento, é de que eles possam sair antes do Natal. Foi o pedido que fez ao presidente Sebastian Piñera, que teve como bandeira da campanha que o elegeu no ano passado o au­mento da eficiência e a moder­nização das minas de seu país.

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