Numa estratégia de desespero diante da forte queda nas pesquisas, o presidenciável José Serra optou por montar uma campanha esqui­zofrênica. Ora tenta atrelar o seu nome ao de Lula, como candidato da continuidade. Ora se coloca numa oposição vacilante. Sem bandeira. Sem convicção. Evasivo. Serra erra feio. Na fórmula e no conteúdo. “Serra e Lula, dois ho­mens de história, dois líderes experientes”, prega seu programa de tevê. Para logo depois ele mesmo estar nas ruas a criticar o governo. E na telinha Lula aparece ao lado de Dilma lhe concedendo uma missão: “Deixo em tuas mãos o meu povo e tudo o que mais amei.” Sacramenta a dianteira acachapante da escolhida. O aliado serrista, Roberto Jefferson, botou o dedo na ferida sobre os erros do plano de navegação da nau tucana: “Não adianta fingir que é Grêmio, se você é Internacional.” E segue no ataque: “Serra é responsável pela nossa dispersão, nunca nos reuniu.” Serra errou na construção de sua imagem. No marketing do “Zé” que não convence como “Zé”. Errou na acomodação inicial diante da vantagem numérica que originalmente carregava por simples inércia. Errou no timing da formalização da candidatura. Errou ao desconsiderar aliados, com a sua postura senhorial e desconexa.

A candidatura segue agora em mares revoltos. Fazendo água por todos os lados. Com o sentimento de desalento tomando conta e a arrecadação minguando, aliados abandonam o barco. Para tentar diminuir a distância oceânica que o separa da adversária Dilma, Serra dá mais uma guinada de rota, com o risco inexorável de bater nas pedras. Vai rumo ao tudo ou nada de ataques – valendo do soco no estômago ao pontapé na canela. Prepare-se, caro eleitor, está aberta outra temporada de golpes baixos. Quebraram o sigilo fiscal de correligionários do PSDB? Foi Dilma que fez. O PT tem ligação com as Farc? Foi Dilma que fez. Uma ditadura está sendo construída, como prega a cantilena do vice Índio? É Dilma que fará. A gritaria simplista e ingênua dá conta da fragorosa derrota que se avizinha. Serra está no momento perdendo em todos os Estados. Até mesmo em São Paulo, capital inclusive, terreiro de histórica hegemonia tucana, onde ele foi prefeito e governador. Retrato de uma oposição claudicante ao longo dos últimos oito anos, Serra amarga erros em cascata. Bateu o pé dentro do partido para que seu nome fosse ungido, sem sequer permitir ao então concorrente, Aécio Neves, direito a prévias. Na disputa de 2006 com Alckmin, esticou até onde pôde a decisão, atrapalhando uma campanha que poderia ter sido bem-sucedida. Ao concorrer pela primeira vez ao posto, em 2002, o fez na base da imposição do seu nome ao então presidente, FHC – que, no fundo, no fundo, sabia da fragilidade política e do impulso desagregador do amigo. Hoje, com pouco mais de 30 dias até as urnas, Serra colhe mais tempestades.