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“Troquei São Paulo por Recife e hoje me pergunto por que não fiz isso antes”
Nivaldo Circuitani Júnior, executivo do Estaleiro Atlântico Sul

O engenheiro Nivaldo Circuitani Júnior, 45 anos, tinha uma carreira sólida em São Paulo até que, quatro meses atrás, recebeu um convite incomum. A proposta consistia em chefiar uma equipe de 500 pessoas da área de fabricação de acessórios náuticos do Estaleiro Atlântico Sul. Se aceitasse a oferta, ele deveria trocar a capital paulista por Recife, em Pernambuco. Melhor ainda: por um salário maior. “É difícil para um profissional que trabalha na maior cidade do País acreditar que existem boas vagas no Nordeste”, diz Júnior. “Aceitei o convite e até hoje me pergunto por que não me mudei antes para Pernambuco.” Se até pouco tempo atrás o Nordeste era sinônimo de pobreza, hoje em dia a região cresce numa velocidade maior do que qualquer outro lugar do País. No primeiro trimestre de 2010, três dos Estados brasileiros que apresentaram maior avanço do Produto Interno Bruto (PIB) são nordestinos: Bahia (alta de 9,5%), Ceará (8,9%) e Pernambuco (7,8%). De acordo com um estudo da Fundação Getulio Vargas, a renda do nordestino cresce, desde 2003, 7,27% ao ano, muito acima da média nacional (5,13%). No século XXI, todos os indicadores econômicos do Nordeste apontam para um vigor que só é comparável à disparada chinesa rumo ao capitalismo. Detalhe: a China é o país que mais cresce no mundo.

Os programas públicos de transferência de renda tiveram um papel importante no desenvolvimento da região, mas o que fez mesmo a diferença foi a iniciativa privada. Nos últimos anos, o Nordeste se transformou em catalisador de recursos vindos de diversos setores. O Estaleiro Atlântico Sul, empresa que pertence ao grupo Camargo Corrêa, desembolsou R$ 1,8 bilhão para produzir embarcações em Pernambuco – investimento que permitiu que executivos como Júnior trocassem o Sudeste rico por uma oportunidade de carreira no Nordeste. Na área hoteleira, é covardia fazer comparações: 70% dos investimentos do setor estimados até 2012 no Brasil vão ser destinados para a região. É natural que se espere uma avalanche de investimentos para estas áreas que pertencem a uma região marcada pela paisagem exuberante e pela orla generosa. Para qualquer segmento que se olhe, porém, o Nordeste está na dianteira.

Na área imobiliária, Estados como Bahia, Ceará e Pernambuco vivem uma expansão sem precedentes. Responsável pelo projeto do Shopping Cidade Jardim, o mais luxuoso de São Paulo, a incorporadora JHSF está construindo um bairro inteiro em Salvador. Com 19 torres residenciais, três comerciais, um hotel, shopping, escola e clube esportivo, o empreendimento vai gerar vendas equivalentes a R$ 1,2 bilhão. Os apartamentos têm entre 70 e 320 metros quadrados e seus preços variam de R$ 200 mil a R$ 1,5 milhão – nada muito diferente, portanto, dos valores praticados em São Paulo para imóveis do mesmo padrão. “Salvador é hoje o terceiro maior mercado imobiliário do País, só atrás de São Paulo e Brasília”, diz Luciano Amaral, diretor de incorporação da JHSF. Especializada na área de condomínios de luxo, a Alphaville também está fazendo dinheiro na região. A empresa tem empreendimentos em todas as capitais nordestinas, à exceção de Aracaju e Maceió. “Em nenhum outro lugar do Brasil a velocidade de vendas de nossos lotes é tão alta”, afirma Marcelo Willer, diretor de projetos da Alphaville Urbanismo.

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“Nenhuma região brasileira oferece tantas oportunidades
de negócio quanto o Nordeste”
Paulo Dalla Nora, diretor do banco Gerador

As empresas com forte atuação no Sudeste desembarcaram no Nordeste de olho no poder de consumo emergente da população. Um estudo da consultoria Gouvêa de Souza concluiu que, para cada R$ 1 que sobra do salário do nordestino no final do mês, R$ 0,78 é gasto na compra de bens de consumo. É mais do que em qualquer outra localidade brasileira. Por essa razão, corporações como AmBev, Ford, Totvs, Basf, Kraft, Whirpool e Perdigão, para citar apenas alguns exemplos, estão intensificando os investimentos em suas operações na região. De seu aporte recorde de R$ 2 bilhões para 2010, a AmBev vai destinar R$ 600 milhões para o Nordeste – o maior montante da história. Diretor-executivo do banco Gerador, com sede no Recife e que atua principalmente no mercado nordestino, Paulo Dalla Nora apresenta dados que comprovam que os nordestinos estão gastando como nunca. “A quantidade de dinheiro em circulação no Nordeste aumenta 20% ao ano, o dobro da média brasileira.” Esse tipo de informação foi suficiente para que Dalla Nora participasse, há pouco mais de um ano, da criação do banco Gerador. Sua ideia é levar crédito farto para uma população ávida por consumir. “Posso garantir, sem medo de errar, que nenhuma região brasileira oferece tantas oportunidades de negócio quanto o Nordeste”, diz o executivo.

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