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PRÁTICA
Hirsch acredita que, para ele, as polainas fazem diferença.
E Ariane as usa apenas em treinos mais intensos

Nada mais antigo que pensar que roupas só servem para cobrir o corpo. Para a indústria têxtil moderna, essa é apenas uma das razões para a existência dos tecidos. Entre as funções a mais que lhes têm sido acrescentadas estão proteger dos raios solares, de bactérias e da água. Agora, novas linhas estão chegando ao mercado com promessas ainda mais ousadas: melhorar a performance e acelerar a recuperação após o esforço físico intenso. São as chamadas roupas com compressão, que incluem desde maiôs até tops e leggins.

Peças de compressão tornam-se populares entre esportistas com promessas de melhorar
o desempenho e a recuperação. Mas há controvérsias sobre seus efeitos

O princípio dos modelos de compressão não é novo. Inspira-se naquele usado nas meias medicinais: a pressão sobre os músculos reduz o diâmetro das veias e, como consequência, faz o sangue fluir mais rápido. Essa alteração na circulação seria o segredo para reduzir os traumas da atividade física intensa sobre o corpo. “A vasoconstrição ajuda na recuperação do edema. É a mesma coisa que ocorre quando colocamos gelo sobre uma região após a lesão”, diz Turíbio de Barros, do Centro de Medicina da Atividade Física da Universidade Federal de São Paulo. O especialista fez duas pesquisas sobre as vestimentas. Uma para estudar os impactos durante o exercício. Outra, no uso posterior, para a redução dos danos após a atividade. Os resultados o deixaram otimista. “Entre ciclistas e velocistas, o uso no treino proporcionou melhora no desempenho de 5% a 7%, resultado da redução da vibração muscular”, assegura. No caso da recuperação, Barros observou uma normalização mais rápida dos níveis de creatina-quinase com o uso das peças de seis a oito horas por dia após o esforço. Essa enzima é uma das formas de medir as lesões musculares, pois seus índices elevam-se após traumas causados por exercícios.

Outro pesquisador que está estudando as peças é o médico Marcondes Figueiredo, diretor da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular. “Os resultados que já observamos são favoráveis”, fala. Até novembro, ele deve concluir seu trabalho, que tem como objeto de estudo a recuperação muscular de jogadoras profissionais de vôlei após o uso de meias de compressão durante o jogo. E não seriam apenas os atletas profissionais os beneficiados. “Em pessoas que fazem atividades físicas ao menos três vezes por semana é possível notar efeitos positivos”, aponta o médico Renato Lotufo, especializado em medicina do esporte e fisiologia do exercício.

Mas os benefícios estão longe de ser unanimidade. Na Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, dois estudos foram publicados recentemente pondo em xeque a melhoria de performance dos atletas com o uso das peças. O primeiro foi feito com corredores de longa distância. O segundo, com saltadores. Em ambos, não houve nenhuma evidência de melhora. “Outras pesquisas também demonstram que os resultados positivos alegados são muito controversos”, disse à ISTOÉ Nathan Eckert, responsável por uma das pesquisas. Na opinião de Marília Duarte Panico, coordenadora da disciplina de Angiologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, a utilização das roupas, inclusive, pode gerar problemas sérios. “Se a pessoa se sente melhor ao usar uma meia de compressão durante o treino é porque tem algum problema vascular e não sabe”, diz. “Para quem não tem, a pressão pode ser até prejudicial, pois há risco de que ela dificulte o retorno do sangue para o coração.”

Na prática, os próprios atletas se dividem. “Tenho alunos que usaram e não sentiram nada”, fala Ricardo Hirsch, 33 anos, diretor da assessoria esportiva Personal Life. Ele tem em casa duas polainas e uma bermuda com a tecnologia. “Para mim, acho que faz diferença, mas como não há nada cientificamente comprovado, não fico dizendo para os outros comprarem”, diz. A triatleta Ariane Monticeli, 28 anos, é da mesma opinião. Ela tem uma calça para a recuperação e polainas, que usa quando se esforça mais. “Só uso em treinos acima de nove quilômetros.”

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