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SOLENE
Para receber a comunhão, as crianças estudam durante dois anos a doutrina

A primeira comunhão é um rito de passagem para os católicos. Por meio desse sacramento, eles adquirem o direito de receber o corpo e o sangue de Jesus Cristo, simbolizados no pão (a hóstia) e no vinho, no ritual consagrado nas missas que simboliza o sacrifício de Deus pelos homens. Para ter direito a isso, são necessários dois anos de intenso aprendizado, a catequese. Esse é, para muitos adeptos desta religião, o único contato com a intrincada doutrina romana, uma vez que a maioria dos fiéis não se preocupa nem em folhear o Evangelho, quanto mais em estudá-lo. Antes de receberem a eucaristia, os candidatos ainda passam por outro sacramento, o da confissão, em que contam seus pecados para um padre. Pois bem, tudo isso ocorre atualmente com crianças de 10 anos, que iniciam a via-crúcis da preparação aos 8. Para quem achou cedo, o Vaticano propõe uma investida ainda mais ousada. Ele pretende que garotos de 7 anos já estejam com a catequese na ponta da língua para desfiar seus pecados e comungar. Foi isso que defendeu o prefeito da Congregação para os Sacramentos da Santa Sé, Antonio Cañizares. O cardeal quer retomar um decreto do papa Pio X (1903-1914), de 1910, que pede a primeira comunhão aos 7. “Tendo em vista o ambiente adverso em que as crianças crescem, não podemos privá-las do presente que é a presença de Deus”, diz o cardeal. A pergunta que fica é: aos 7 anos alguém está pronto para entender uma doutrina religiosa, conceitos como pecado e inferno e, ainda por cima, analisar suas faltas e confessá-las?

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REBELDES
Matilde quer que sua filha Vitória (à esq.), 9, faça como a
irmã Marcela (à dir.), 12: complete 10 anos para começar

 

Para o bispo dom Eugênio Rixem, responsável pela área na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), 7 anos é cedo demais. “A compreensão da catequese que antecede a comunhão e a própria eucaristia é mais garantida em crianças com mais de 10 anos”, acredita. Rogério Barros, catequista de São Paulo, concorda.

Para ele, mesmo os garotos que vêm de um ambiente católico e já conhecem os sacramentos (leia quadro) se beneficiam ao esperar. “Eu fiz a primeira comunhão aos 7 e foi ruim”, diz Barros. Matilde Lorelli, 38 anos, seguiu esses conselhos com Marcela, hoje com 12 anos. E vai manter a conduta com Vitória, 9. “Aos 7 a criança ainda está se alfabetizando. Não quero acumular a alfabetização com o ensino religioso”, explica Matilde, fazendo coro com a maioria dos fiéis, que não aprovou a polêmica recomendação. Em um mundo onde os católicos praticantes são cada vez mais raros, o Vaticano se contorce para incluir e não segregar.

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