chamada.jpg
PASSIONE
Personagens de Maitê Proença e Tammy di Calafiori brigam pelo o amor do rapaz vivido por Daniel de Oliveira

A situação é antiga e causou polêmica há mais de 40 anos com o filme “A Primeira Noite de Um Homem”, que mostrava uma mulher casada disputando o namorado com a filha. Agora está de volta em duas novelas da Rede Globo. Em “Passione”, no horário nobre , mãe e filha brigam pelo mesmo homem, o personagem Agnello, interpretado por Daniel de Oliveira. A mãe é Stela (Maitê Proença) e a filha e rival é Lorena (Tammy di Calafiori). Na trama das seis, “Escrito nas Estrelas, é o pai (Humberto Martins) que se apaixona pela moça (Nathalia Dill), objeto do desejo do filho que morreu, Daniel, interpretado por Jayme Matarazzo. O que diferencia a competição amorosa atual de outras do passado é que nunca uma personagem foi tão longe nesse jogo de sedução quanto Stela de “Passione” e jamais duas novelas globais abordaram a mesma questão simultaneamente. A coincidência é analisada pelo pesquisador Nilson Xavier, autor do “Almanaque da Teledramaturgia Brasileira”, como mera questão de mercado: “Com a audiência em queda, os autores precisam criar polêmica para atrair o público.” Antigo, mas ainda assim desconfortável, o tema deixou surpresa a atriz Tammy. “Levei um susto ao saber que o meu papel incluía essa situação”, diz ela.

img.jpg

A jovem Tammy não deve se lembrar, mas esse recurso é recorrente nas telenovelas. Em “Barriga de Aluguel”, de 1990, as personagens de Renée de Vielmond e Tereza Seiblitz tinham a mesma atração pelo médico vivido por Jairo Mattos. Nove anos depois, “Suave Veneno” contrapôs as atrizes Irene Ravache e Luana Piovani (mãe e filha) em papéis semelhantes.

Na sequência, “Laços de Família” (2000) repetiu o drama, com Vera Fischer, Carolina Dieckman e Reynaldo Gianecchini nos vértices do triângulo amoroso. Em todos esses casos, porém, os envolvidos experimentavam uma crise de escrúpulos e sofriam muito. Não é o que acontece em “Passione”: na novela de Silvio de Abreu, a personagem de Maitê Proença chegou até a inventar histórias falsas para separar o seu genro de Lorena. Não conseguiu e agora as duas estão brigadas. “Colocar em discussão assuntos tabus é um dos méritos das novelas”, afirma a psicóloga Cristiane Valéria da Silva, com mestrado sobre o assunto na Unicamp. “O autor expõe sentimentos latentes e o público reflete: ‘Se acontecer na vida real, como vou lidar com isso?’”

Em “Escrito nas Estrelas”, esse dilema aparece suavizado, já que a “vítima” amorosa, Daniel, morreu antes de seu pai se apaixonar pela mulher que ele ama. “A gente está aqui para contar uma linda história de amor que, se é possível ou não, depende da crença de cada um”, diz Matarazzo, intérprete de Daniel. No caso de “Passione”, a competição é aberta e já não existem segredos na conturbada relação familiar. “Isso é perfeitamente possível de acontecer.

As mães estão cada vez mais bem cuidadas e muitas vezes frequentam os mesmos lugares que as filhas”, diz Tammy. O pesquisador Nilson Xavier acrescenta que na vida real o telespectador pode até condenar esse tipo de atitude. Mas gosta de vê-la representada nas telenovelas.

“É do ser humano usar a ficção para exorcizar comportamentos moralmente proibidos”, diz. O segredo, portanto, é saber adaptar os tabus comportamentais aos novos tempos. E é aí que reside a novidade desses novos jogos de sedução em família.