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Obra de Amália Giacomini

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"Madeira Pintada", de Sergio Camargo

 

As relações entre o imaterial e o material sempre estiveram presentes no campo da experimentação da escultura. Longe de se querer traçar um padrão evolucionista, podemos pensar a história da escultura dentro desses extremos, o da ausência e o da presença da matéria, como elementos de expressão e questionamento do espaço na obra de arte. No caso da ausência da matéria, isso se dá não no sentido de sua anulação, mas no questionamento à sua função em detrimento do vazio, algo que também pertence ao campo do maleável. Pensando nesse contexto é possível estabelecer um diálogo entre os trabalhos de dois artistas de gerações e contextos diferentes, nas exposições Amália Giacomini – Vazio Inventado e Sergio Camargo-Claro Enigma.
Claro Enigma, nome da retrospectiva do artista Sergio Camargo, falecido em 1990, aborda os 40 anos de carreira de um dos mais importantes escultores brasileiros. Com curadoria de Paulo Venâncio Filho, a mostra reúne 30 obras produzidas entre os anos 1930 e 1990, desde as esculturas mais expressivas do artista, datadas dos anos 1960, até alguns de seus últimos trabalhos. Na mostra é possível percorrer pelo desenvolvimento criativo do artista, desde suas figurações modernistas até o seu período abstrato. Influenciado pelo pensamento construtivista, assim como grande parte dos artistas brasileiros na década 1960, Camargo começou seu período abstrato utilizando a geometria como "lugar da arte não-objetiva", ou seja, uma arte de formas puras. Exemplo é a série "Madeira Pintada" (foto) de Camargo, produzida nos anos 1980, período final de sua carreira, que apresenta uma simplicidade utilizar a figura do cilindro, que aparece em outros trabalhos, como forma de pensar o espaço e a forma.
Já Amália Giacomini é formada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo e tem se destacado no circuito nacional de arte desde sua participação no Rumos Artes Visuais do Itaú Cultural em 2009. Talvez por causa de sua formação, Giacomini, evidencie sua relação com um espaço arquitetônico, mas em um sentido elementar que é o das projeções geométricas. Em suas obras vemos o vazio ser evidenciado por linhas que em muito lembram coordenadas cartesianas. Exemplo é a série "Dobras" (foto), onde se aproveita o ângulo reto entre duas paredes para criar uma curvatura. O que vemos nestes trabalhos é o vazio materializado como um raciocínio abstrato, que é o campo da geometria, mensurado pelas linhas de fuga que formam os espaços escultóricos produzidos pela artista. Mas longe de serem simples coordenadas cartesianas, as obras de Giacomini são relações metonímicas com o espaço, ampliações de uma parte infinita, onde o mensurável, o espaço, é colocado em diálogo com aquilo que teoricamente não se mede o vazio. Se o vazio de Giacomini é falso o mesmo se dá no plano da matéria em Camargo. As formas geométricas do artista também desafiam a noção de espaço como lugar para o vazio, através da sobreposição e acúmulo das formas em confronto com a rigidez dos materiais trabalhados tradicionalmente na escultura que é a madeira e o mármore. Em suma, essas são duas boas oportunidades para se pensar, não a evolução da escultura, mas as noções sobre matéria e espaço na arte contemporânea.